O Estado de São Paulo, n. 46537, 17/03/2021. Política. p.A8

Marcelo Ramos: 'Não teremos paciência com o novo ministro'

Para vice-presidente da Câmara e integrante do Centrão, médico Marcelo Queiroga precisa apresentar 'respostas rápidas' na Saúde

André Shalders / BRASÍLIA

O novo ministro da Saúde, o médico cardiologista Marcelo Queiroga, assumirá a pasta sob desconfiança de políticos do Centrão – grupo de partidos que controla o Congresso e forma a principal base de apoio do presidente Jair Bolsonaro no Legislativo. Queiroga precisará agir e mostrar resultados logo para não ganhar a antipatia do grupo, segundo o deputado Marcelo Ramos (PL-AM), vice-presidente da Câmara. "Não teremos paciência com ele (Queiroga). É acertar ou acertar", disse o parlamentar.

Aliado do presidente da Casa, Arthur Lira (Progressistas-AL), Ramos publicou ontem no Twitter que "a situação não permite que o ministro da Saúde tenha tempo para aprender a ser ministro". "As respostas terão que ser rápidas e efetivas."

Queiroga foi anunciado anteontem pelo presidente Jair Bolsonaro como novo ministro da Saúde, em substituição ao general da ativa Eduardo Pazuello. A pressão de políticos do Centrão, interessados em assumir o comando da pasta que tem um dos maiores orçamentos da União, contribuiu para a queda de Pazuello.

Grande parte desse grupo apoiava o nome da médica Ludhmila Hajjar. Ludhmila chegou a receber apoio público de Lira, que exaltou a "capacidade técnica e de diálogo político com os inúmeros entes federativos e instâncias técnicas" da médica. Horas depois, no entanto, ela anunciou a recusa por "divergências técnicas".

No dia seguinte, Queiroga foi confirmado no ministério. Bolsonarista, o presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) não tem ligação com um grupo político específico. Ele, porém, é próximo do filho mais velho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-rj), que teve peso determinante na decisão.

Ramos afirmou que não conversou com Lira sobre o assunto, mas disse acreditar que o presidente da Câmara e líder do Centrão está "contrariado" por causa do "conjunto da obra" do Ministério da Saúde.

 

Limite. A principal "linha vermelha" para Queiroga, no diagnóstico de Ramos, será a vacinação contra a covid-19. Se o processo não for acelerado, o ministro perderá apoio político do Centrão, afirmou. "Ele começa com todo o apoio e com toda a torcida para que dê certo. Pelo bem do País. Se ele errar, serão outros milhares de brasileiros mortos", disse o amazonense.

Ramos afirmou, ainda, que Bolsonaro não tem aval do grupo para agir na contramão de protocolos sanitários. "Bolsonaro nunca teve apoio do Centrão para promover aglomerações, para negar o uso da máscara ou a gravidade da pandemia."

Para o deputado Fausto Pinato (Progressistas-sp), o presidente optou por decidir sozinho sobre a escolha do novo ministro, sem ouvir o Congresso, e, agora, terá de arcar também sozinho com a responsabilidade "Ele (Bolsonaro) perdeu a chance de dividir essa responsabilidade. Se o ministro acertar, ótimo. E se errar? Se aceitar as interferências (de Bolsonaro) e o País entrar em colapso?", questionou Pinato.

O presidente do Republicanos, deputado Marcos Pereira (SP), disse ao Estadão que achou "muito boa" a escolha do cardiologista. / COLABOROU DANIEL WETERMAN