Correio Braziliense, n. 21346, 25/08/2021. Negócios, p. 8
Lira defende teto de gastos e acalma mercado
Vera Batista
25/08/2021
Depois do estresse da semana passada, o mercado financeiro teve ontem um dia de recuperação. Principal indicador da Bolsa de Valores de São Paulo, o Ibovespa fechou com uma expressiva alta, de 2,33%, aos 120.211 pontos, o melhor resultado em duas semanas. No mercado de câmbio, a volta do bom humor se refletiu na cotação do dólar, que despencou 2,23%, cotado a R$ 5,262 para venda, no final da sessão.
Segundo analistas, sem novas notícias sobre a queda de braço entre Executivo e Judiciário, os investidores deram mais atenção aos comentários tranquilizadores de autoridades sobre o cenário fiscal. O maior impacto positivo foi provocado pela defesa do teto de gastos feita pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). "Eu não vejo necessidade nem possibilidade de estourar o teto", afirmou Lira, em evento com analistas, ao comentar as dificuldades da polêmica PEC dos Precatórios, que adia o pagamento de dívidas judiciais da União.
Vinda de um expoente do centrão, grupo político associado à expansão de gastos púbicos, a declaração colocou o mercado em clima de alta. Por sua vez, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que vinha fazendo alertas sucessivos sobre o risco de desarranjo das contas públicas, afirmou que os dados fiscais estão melhores do que se projetava para o momento.
"Existe um pano de fundo fiscal que é inegavelmente melhor, com uma relação dívida/PIB e um deficit primário menores do que se esperava — e grande parte disso não causado pela inflação. Por outro lado, também reconheço que houve um ruído de curto prazo", afirmou ele, em participação no mesmo evento.
O ambiente externo, igualmente, ajudou, pelo desempenho positivo das commodities, principalmente do minério de ferro.
Para o economista Cesar Bergo, sócio investidor da Corretora OpenInvest, "o relativo apaziguamento político, mesmo do ponto de vista cênico, é importante". Mas ainda há muita preocupação, afirma, sobre a reforma tributária. "A leitura do mercado, depois dos vários discursos otimistas do ministro Paulo Guedes, é de que haverá um novo desenho do Ministério da Economia para a reforma tributária e de que, de alguma forma, ela não continuará esquecida", disse.
Bergo acredita que o ambiente mais propício aos investimentos deve se manter. Ele não aposta, por exemplo, em nova alta do dólar. "Para o final do ano, a expectativa é de a divisa americana se manter a R$ 5,20. Qualquer coisa acima disso é fruto de estresse político. Não há razão para dólar mais caro, com as exportações aumentando e favorecendo a entrada no país da moeda estrangeira. Enfim, os fatos indicam que esta semana vai ser mais calma que a anterior", destacou.