Título: Lula critica ''vendaval'' de FH
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Fonte: Jornal do Brasil, 03/02/2005, País, p. A3
Presidente compara herança deixada pelo antecessor ao maremoto da Ásia e afirma que dívida social é ''quase impagável''
Folhapress
GUARULHOS, SP - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva usou os dois discursos que fez ontem em Guarulhos, na Grande São Paulo, para bater forte no PSDB. Em evento do Bolsa Família, começou atacando os gastos da Febem, de responsabilidade do governador paulista, Geraldo Alckmin. Em seguida, voltou as críticas ao antecessor Fernando Henrique Cardoso. Comparou a herança recebida ao maremoto da Ásia e derrapou no discurso ao se referir ao fenômeno que matou 280 mil pessoas como um ''vendaval''.
- Sofremos muito em 2003 e vocês acompanharam o sofrimento. Peguei uma casa depois de um vendaval, como aquele que deu na Ásia - comparou, após visitar as obras do Hospital dos Pimentas.-
Na mesma fala, o presidente lançou mão de mais uma metáfora futebolística para ilustrar o meio caminho andado no governo:
- Terminou o primeiro tempo e fomos para o vestiário, que é o Natal. Agora começa um segundo tempo muito mais promissor que o primeiro.
Sem citar Fernando Henrique uma vez sequer, Lula reclamou da situação encontrada quando assumiu a Presidência.
- A dívida social é quase impagável - afirmou, comparando-a às dívidas interna e externa do país.
O presidente comparou o que o governo federal investe em programas sociais com gastos feitos pela Febem, dizendo ser ''melhor'' gastar com política social do que com jovens infratores.
- O governador Mário Covas me disse uma vez que gastava R$ 2 mil para cuidar de uma criança na Febem por mês. Quem sabe, em vez de gastar R$ 2 mil com o jovem, fosse melhor gastar R$ 300 com a família - criticou, citando o tucano, que morreu em 2001.
Lula discursou para uma platéia de cerca de 10 mil pessoas e lembrou que o Bolsa-Família paga, em média, R$ 80 por família. Defendeu que gastar em política social significa investir na família e evitar que uma ''criança não se transforme num deliqüente amanhã''.
- Como é possível colocar assistente social para cuidar daquele jovem separado do pai, da mãe e da família? O ideal é fazer com que a família participe da recuperação da criança, porque há palavras-chaves que não estão no manual daqueles que são carcereiros da Febem: amor, paciência e carinho - discursou Lula.
Na semana passada, 21 funcionários da Febem (Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor) foram afastados sob suspeita de facilitarem a fuga de 202 jovens do Complexo Vila Maria. Mais de 120 foram recapturados. A fuga ocorreu cinco dias após o indiciamento de 52 funcionários da unidade por crimes de tortura e formação de quadrilha.
As críticas à Febem foram feitas por Lula na cerimônia de entrega de 5 mil cartões do Bolsa-Família a beneficiados de Guarulhos, cidade administrada pelo PT - outros 5 mil já haviam sido entregues na segunda-feira. No total, cerca de 28 mil famílias serão atendidas pelo programa na cidade, que tem 1,2 milhão de habitantes.
O presidente foi ovacionado durante o seu discurso e reconheceu ''equívocos'' no Bolsa Família. Elogiou ainda o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias , presente no evento, por exigir mais ''seriedade'' no cadastramento das famílias.
O presidente agradeceu a ''imprensa brasileira'' por denunciar irregularidades no programa.
- Muitas vezes a imprensa mostra as irregularidades para a população e nós ficamos zangados e chateados. Mas eu penso que a imprensa está cumprindo o seu papel de informar a sociedade e alertar o governo - afirmou.
O Palácio dos Bandeirantes, por intermédio da Secretaria de Estado de Comunicação, não quis responder às críticas contra a Febem feitas pelo presidente Lula. A assessoria de imprensa da Febem confirmou que o Estado gasta entre R$ 1.800 e R$ 2.000 mensais por interno.