Título: Vale tudo para eleger Greenhalgh
Autor: Sérgio Prado e Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 03/02/2005, País, p. A5

Planalto admite alterar Medida Provisória 232, que aumenta impostos, para diminuir resistência a deputado petista

Quando a situação se complica no Legislativo, sempre aparece a caneta do Executivo para resolver a questão. Agora, o problema é a resistência ao nome do deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) para presidir a Câmara. Por isso, no seio do Planalto vários ministros admitem a possibilidade de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva alterar a Medida Provisória 232 como parte de uma agenda a ser negociada com as bancada no sentido de ajudar na eleição do candidato petista. A proposta sofre ataque de todos os partidos, pois aumenta os impostos aos prestadores de serviços. Um auxiliar próximo ao presidente confirma que até dentro do Ministério da Fazenda há quem aceite mudar alguns artigos do projeto. Faltaria apenas o aval do titular da pasta, Antonio Palocci.

Um dos líderes da bancada ruralista, o deputado gaúcho Luis Carlos Heinze (PP-RS) afirma que esse é um dos pontos da pauta apresentada ao Planalto, que possibilitaria um diálogo com Greenhalgh. Não passa despercebida a antipatia que os parlamentares ligados ao agronegócio tem pelo petista, que sempre foi ligado ao Movimento dos Sem-Terra (MST).

- Nós avisamos ao ministro Aldo Rebelo (Articulação Política) que esta MP, junto com a Lei de Biossegurança, código florestal, entre outros projetos, fazem parte dos nossos interesses e que precisamos negociar. Acho positivo este sinal do Planalto - diz Heinze.

O deputado revela também que o diálogo sobre o tema ultrapassou o corredor da Câmara e foi parar no Senado, na sala de Renan Calheiros (PMDB-AL), virtual presidente do Congresso.

A bancada ruralista é reconhecida por sua coesão. Tem cerca de 110 deputados. Por isso, um acerto com esse segmento é considerado importante para as pretensões do governo.

Pelo acordo feito entre os líderes na segunda-feira, ao PMDB fica assegurada a primeira secretaria da Mesa da Câmara, abrindo espaço para que os ruralistas emplaquem um nome de sua preferência. Eles escolheram o deputado Waldemir Moka (PMDB-MS). Apesar disso, Heinze avisa que a decisão sai só no dia 11. É evidente que se trata de mais uma forma de pressão sobre o Planalto.

- Vamos conversar também com os outros candidatos - diz Heinze.

Os partidos da base governista começaram ontem a colocar em prática o acordo a favor de Luiz Eduardo Greenhalgh costurado durante almoço na residência do presidente do Congresso, senador José Sarney (PMDB-AP). A intenção é consolidar 280 votos para o candidato oficial, o que asseguraria a vitória no primeiro turno. O primeiro alvo foi o PP. Durante o dia, o líder do partido na Câmara, José Janene (PR) e o deputado Pedro Henry (MT) dispararam telefonemas no sentido de virar votos em favor de Greenhalgh. Pelas projeções dos governistas, hoje o PP só cravaria cinco votos no candidato petista, o que ameaçaria inclusive a ampliação do espaço do partido na Esplanada, antes dada como certa.

- Como o PP quer um ministério, se promete assinalar apenas cinco votos para Greenhalgh? - questionou um peemedebista muito ligado a Lula durante a reunião na residência de Sarney.

O partido tem 51 deputados. Se a eleição fosse hoje, pelos cálculos dos líderes que participaram do encontro na casa de Sarney, a candidatura de Greenhalgh correria sérios riscos. A projeção mais pessimista aponta o petista com 238 votos, contra 268 da avaliação mais otimista. Por isso, o esforço concentrado dos líderes, com o reforço de ministros do governo.

Os ministros também foram orientados nos últimos dias a esvaziar a repercussão do chamado caso Lubeca. Novas gravações obtidas pelo jornal Folha de S.Paulo colocariam Greenhalgh no centro de um escândalo que envolveu a Prefeitura de São Paulo, a empresa Lubeca e o suposto pagamento de US$ 200 mil em propina. A conversa, no entanto, foi gravada há 15 anos. Os governistas dizem que o assunto não atinge o deputado petista, é requentado e veio à tona por quem deseja baixar o nível do debate à presidência da Câmara.