O Estado de São Paulo, n. 46539, 19/03/2021. Política. p.A10

Major Olimpio tem morte cerebral em decorrência da covid

Parlamentar estava internado havia 16 dias, 13 deles na UTI; presidente do Senado decreta luto de 24h no Congresso 

O senador Major Olimpio (PSL-SP), de 58 anos, teve morte cerebral declarada ontem, após complicações em decorrência da covid-19. Ele estava internado havia 16 dias, sendo 13 deles na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Foi da cama do hospital que ele participou pela última vez de uma sessão do Senado, ao votar a favor da proposta de Emenda à Constituição (PEC) que reinstituiu o pagamento do auxílio emergencial.

Eleito senador pelo PSL em 2018, com pouco mais de 9 milhões de votos, a quinta maior votação para o cargo da história, Olimpio rompeu em 2019 com o presidente Jair Bolsonaro. O senador completaria 59 anos no próximo sábado. Ele deixa a mulher e dois filhos.

No Senado, a vaga será ocupada pelo suplente, Alexandre Luiz Giordano, também filiado ao PSL. O assessor de imprensa do senador, Diego Freire, de 33 anos, também foi contaminado com covid-19 e está internado em estado grave.

Sérgio Olimpio Gomes era oficial da reserva da Polícia Militar de São Paulo. Formou-se na turma de 1982 da Academia Militar do Barro Branco e se casou com a fonoaudióloga Cláudia Regina de Abreu Bezerra, filha do influente coronel Niomar Cyrne Bezerra, que foi comandante do Policiamento de Choque nos anos 1980.

O trabalho na Casa Militar durante o governo de Luiz Antonio Fleury Filho (1991-1995) o aproximou do mundo político e marcaria sua vida. Foi nessa época que um dos amigos do coronel Niomar, o coronel Ubiratan Guimarães, foi afastado por Fleury após a morte de 111 presos na Casa de Detenção de São Paulo – episódio que ficou conhecido como massacre do Carandiru. Ubiratan se candidatou a deputado estadual e se elegeu. Olimpio acompanhou os passos do coronel.

Em 1997, ele escreveu um livro com outros quatro capitães da PM: Reaja! Prepare-se para o Confronto – Técnicas Israelenses de Combate. A obra trazia três princípios básicos para o cidadão enfrentar bandidos: recomendava a reação a ações violentas e o uso de arma de fogo, desde que a pessoa fosse treinada. Para os autores, o bandido era "uma pessoa menos humana" e devia ser colocado "fora de combate".

Olimpio comandou a PM na região da Praça da Sé, no centro de São Paulo, e depois passou a atuar na Associação Paulista de Oficiais da PM. Foi só em 2006 que ele obteve o primeiro mandato, quando se elegeu deputado estadual pelo PV – ele passou ainda pelo PDT e Solidariedade antes de se filiar ao PSL.

Eleito deputado, fez oposição aos governadores do Estado em defesa dos interesses corporativos da PM, protagonizou diversos episódios públicos de bate-boca com adversários e manifestações em que comandava vaias contra seus alvos. O primeiro deles foi José Serra, vaiado em uma solenidade na Academia Militar do Barro Branco em 2007. Depois, conseguiu tirar do sério Geraldo Alckmin ao tentar interromper uma fala do tucano em uma solenidade no interior. Por fim, passou a atacar João Doria, com quem também se desentendeu.

Em 2014, foi eleito deputado federal e apoiou o impeachment de Dilma Rousseff. Quando Dilma tentou dar posse ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como ministro-chefe da Casa Civil, em 2016, Olimpio foi ao Planalto e começou a gritar "Vergonha!".

Eleito senador em 2018 na onda bolsonarista que varreu o País, Olimpio fazia parte da chamada "bancada da bala", mas rompeu com o presidente no ano seguinte, em meio à briga entre a direção do partido e a família de Jair Bolsonaro. Olimpio acusava Flávio Bolsonaro de ser "ladrão de rachadinha". Foi assim que ele bateu boca com bolsonaristas em Taubaté, no interior do Estado.

Luto. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), lamentou a morte cerebral do senador e decretou luto oficial de 24 horas no Congresso, período no qual não haverá celebrações no Legislativo. Em nota, Pacheco lembrou que Olimpio é o terceiro senador a perder a vida para o novo coronavírus – o paraibano José Maranhão faleceu em fevereiro, e Arolde de Oliveira, do Rio de Janeiro, em outubro do ano passado. "As sinceras condolências do Parlamento Brasileiro à família, amigos e a todos os paulistas", afirmou Pacheco, em nota.

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), também prestou homenagem. "É com profundo pesar que recebo a notícia do falecimento do senador Major Olimpio. Meus sinceros sentimentos aos familiares e amigos", afirmou.

O presidente do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, afirmou que Olimpio "foi um parlamentar combativo em relação aos valores morais e institucionais do estado de direito".

O governador prestou solidariedade à família e amigos do senador. "Infelizmente mais uma vítima da covid-19." O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL) afirmou que, "em que pese termos diversas discordâncias, não torço pela morte de ninguém. Que Deus conforte a família e amigos do Senador Major Olimpio neste difícil momento".

O vice-presidente Hamilton Mourão e ministros também se pronunciaram. "Com pesar, solidarizo-me com a família e amigos do nosso Senador Major Olimpio, enviando-lhes minhas condolências. Força e fé", escreveu Mourão. O presidente Jair Bolsonaro não comentou a morte cerebral do senador até a conclusão desta edição.