Correio Braziliense, n. 20606, 23/10/2019. Política, p. 4

Eduardo Bolsonaro desiste de embaixada



O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) desistiu de ocupar o cargo de embaixador em Washington. O anúncio foi feito em pronunciamento no plenário da Câmara na noite desta terça-feira, 22, durante a aprovação do acordo entre o Brasil e os Estados Unidos para o uso comercial da base de Alcântara (MA). O filho do presidente Jair Bolsonaro e atual líder do PSL afirmou que fica no país para defender princípios conservadores e o governo do pai.

“Esse aqui que vos fala, filho de militar do Exército brasileiro e deputado federal, que foi zombado por ter, aos 20 anos de idade, um trabalho digno e honesto em restaurante fast-food nos Estados Unidos, diz que fica no Brasil para defender os princípios conservadores, para fazer o tsunami que foi a eleição de 2018, uma onda permanente. Assim, me comprometo a caminhar por São Paulo, pelo Brasil e pelo povo”, afirmou o deputado.

A decisão de Eduardo já era esperada por auxiliares do presidente Jair Bolsonaro, que afirmavam que, apesar da peregrinação que fez junto aos senadores, o parlamentar não conseguiu apoios suficiente para ser aprovado para o cargo — o que poderia levar a uma derrota emblemática para o governo.

Além disso, o movimento do presidente para colocar o filho na liderança do PSL, na semana passada, ajudou a inviabilizar a possibilidade do deputado de assumir a Embaixada brasileira em Washington. “A liderança ainda está instável, mas, a princípio, só (fico) até o final do ano”, afirmou o deputado.

De acordo com o deputado, a rejeição do eleitorado à saída dele da Câmara também pesou na decisão. “A gente escuta conselhos, e confesso que ainda tem o meu eleitorado. Confesso, não era a maioria que estava apoiando”, afirmou.

No Japão, Bolsonaro afirmou que se Eduardo desistisse de concorrer à embaixada em Washington, o diplomata de carreira Nestor Foster, encarregado de negócios na embaixada dos Estados Unidos e atualmente ocupa o cargo de embaixador interino, poderia ser indicado ao cargo. O presidente chegou a dizer que preferia que Eduardo ficasse no Brasil para pacificar o partido, mas destacou que a decisão seria de dele.

Amigo pessoal do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, foi Foster quem aproximou o chanceler de Olavo de Carvalho. Há alguns meses, a indicação de Foster para a Embaixada do Brasil nos EUA era dada como certa por integrantes do Itamaraty. Em junho, ele foi promovido ao topo da carreira justamente para poder ocupar o posto. Um mês depois, no entanto, diplomatas foram surpreendidos pela possibilidade de Bolsonaro indicar o filho. Há cerca de três meses, Bolsonaro manifestou a vontade de indicar o filho para a embaixada do Brasil nos EUA. No entanto, por falta de votos para ser aprovado no Senado, a indicação não chegou a ser formalizada. Interlocutores afirmam que a crise no PSL também contribuiu para minar ainda mais as chances de o deputado conseguir o posto e que seria uma saída de honra o filho 03 ajudar a “pacificar” o partido. Na segunda-feira, Eduardo assumiu a liderança do PSL na Câmara.

Alcolumbre será presidente até sexta

O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), assume hoje a Presidência da República. Ele fica no cargo até sexta-feira. A rápida troca de cadeiras ocorre por coincidência de agendas de viagens de autoridades que sucedem o presidente Jair Bolsonaro. Hamilton Mourão assumiu interinamente a Presidência, uma vez que Bolsonaro cumpre viagens internacionais até o dia 31 à Ásia e ao Oriente Médio. Nesta tarde, Mourão viaja para o Peru e volta na sexta-feira à noite.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), também viajará para a Inglaterra e Irlanda. Na cadeia de sucessão, Alcolumbre será o próximo presidente da República em exercício.