Título: Brasil cresce menos que vizinhos
Autor: Daniele Carvalho
Fonte: Jornal do Brasil, 03/02/2005, Economia & Negócios, p. A19

Juros altos fazem economia se expandir em ritmo inferior à média dos países latino-americanos, apontam especialistas

O Brasil crescerá menos do que a média da América Latina e abaixo de países como o Chile, apesar de ser a maior economia da América do Sul. O avanço de 5,3% no Produto Interno Bruto (PIB) em 2004 - anunciado e comemorado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva - é tido por especialistas como pouco expressivo, principalmente se levada em conta a base comparativa para o cálculo, que é a de um PIB de apenas 0,5% em 2003. De acordo com projeções da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal), a região apresentará crescimento de 5,5% do PIB em 2004. Os destaques ficam por conta do Chile, que deve ter expansão de 5,8%, e da Argentina, com elevação de 8,2%. O México também está bem situado. Apesar de só ter crescido 4% no mesmo período, o país teve em 2003 um avanço de 1,2%.

Mesmo não consolidados pelos governos locais, os números explicam como cada país da região conseguiu tirar proveito do ciclo de crescimento global do ano passado, que atingiu também países asiáticos emergentes, como Índia e a China.

- O resultado do Brasil não é tão bom como está sendo divulgado. Tivemos um resultado muito fraco em 2003 e, portanto, a base é fraca. Já países como o Chile (expansão de 3,3% em 2003 e 5,8% no ano passado) apresentam crescimento mais sustentado. Se o Brasil estivesse mais bem preparado, teria aproveitado melhor o crescimento mundial - comenta Teothonio dos Santos, professor de Economia Mundial da Universidade Federal Fluminense (UFF).

Na avaliação de Teothonio, o principal empecilho a um crescimento real da economia nacional como em outros países está na política adotada pelo governo, que dá ênfase ao controle da inflação por meio da taxa de juros. Segundo ele, tal prática acaba freando o consumo interno e desestimulando investimentos privados no setor produtivo.

- É mais lucrativo emprestar dinheiro, com remuneração de juros na casa dos dois dígitos, do que investir em projetos industriais. Assim pensa o capital privado - acrescenta.

De mesma opinião é o professor da Fundação Getulio Vargas, Istvan Kasznar, que aponta ainda falhas do governo na atração de investimentos externos.

- Temos problemas sérios na regulação de setores importantes, além de problemas no judiciário. O Brasil precisa dar incentivos ao pequeno e médio empresário. Isso tudo afugenta investimentos externos - avalia o economista.

A falta de investimentos no setor produtivo é apontada pelo diretor da Cepal, Renato Baumann, como um dos maiores desafios para o Brasil durante os próximos anos.

- Sem investimentos pesados em segmentos importantes - como embalagens, logística e energia - o país terá problemas em manter um crescimento sustentado de seu PIB - avalia ele.

Contrastando as estimativas da Cepal com as projeções divulgadas pela pesquisa Focus (do BC), o Brasil deverá ficar 2005 novamente abaixo do crescimento da América Latina: 3,7% contra 4%.

- É preciso se levar em conta que em 2005 não teremos tantos componentes favoráveis ao crescimento da região como no ano passado - diz Baumann.

Dentro do contexto da América Latina, a Venezuela é o país que apresentou a expansão mais alta em 2004, mas também o que desperta maior preocupação por parte de organismos internacionais. O PIB do país apresentou expansão de 18%, resultado da forte alta na cotação do barril de petróleo no mercado internacional. Como a Venezuela tem sua economia focada, basicamente, na exportação da commodity, o resultado sofreu distorção. Em 2003, o país teve crescimento negativo de 9,7%.