Título: Ricos são mais pessimistas
Autor: Sabrina Lorenzi
Fonte: Jornal do Brasil, 03/02/2005, Economia & Negócios, p. A21

Elevação dos juros faz famílias de alta renda demonstrarem maior preocupação com economia

O temor dos juros elevados assombra apenas famílias de renda superior a doze salários mínimos, de acordo com a Sondagem Expectativas do Consumidor, da Fundação Getúlio Vargas (FGV). As duas classes mais favorecidas pesquisadas pelo instituto demonstram preocupação com a economia, enquanto chefes de famílias mais pobres apostam num futuro melhor para a situação econômica do país, alheios ao aperto na política monetária.

- Isso mostra que essa cautela não é provocada pelo que está acontecendo na pele das pessoas. Quem tem acesso a mais informação e sabe que os juros estão subindo é que demonstra pessimismo nas perspectivas para os próximos meses - afirmou o coordenador da pesquisa, Aloisio Campelo.

Mais cautelosos desde o final do ano passado, os brasileiros, sobretudo os mais pobres, resolveram acertar as contas. A pesquisa mostra que 63,5% dos 1.444 mil chefes de família entrevistados estão com as despesas em dia, sem dívidas. A parcela dos que se dizem endividados, por sua vez, encolheu de 24,4% para 23% de dezembro para janeiro.

Os entrevistados mais ricos consultados pela FGV foram os únicos que pioraram suas finanças em janeiro. Na faixa de renda acima de 20 salários, a fatia dos que acreditam estar com o orçamento equilibrado caiu de 64,7% para 63% entre dezembro e janeiro. Em todas as demais faixas, as respostas que relatam equilíbrio financeiro cresceram em número.

Cinqüenta e oito por cento dos que ganham até três salários conseguiram acertar as contas sem ficar devendo, ante os 55% registrados no mês anterior.

Na faixa de três a sete salários os percentuais são 68% e 63%, respectivamente, em janeiro e dezembro. No universo de quem recebe de sete a 12 salários, o percentual é o maior da pesquisa: 70,9% responderam que estão em dia.

Em linha com a disposição em alcançar equilíbrio financeiro e as apostas pessimistas para o futuro econômico, a intenção de comprar bens de alto valor como carros, imóveis, eletrodomésticos e computadores continua tímida. Apenas 13,6% dos entrevistados afirmam que vão às compras.

A sondagem revela ainda que a parcela da população que acredita na melhora da situação econômica do país durante os próximos seis meses caiu de 46,4% para 45,4% entre dezembro e janeiro. A fatia dos que esperam piora aumentou de 10,4% para 11,4% no mesmo período.