Título: Brasil sedia pesquisa mundial
Autor: Claudia Bojunga
Fonte: Jornal do Brasil, 03/02/2005, Internacional, p. A9

Ministro inaugura laboratório onde amostras de 1.200 pacientes serão analisadas

O ministro da Saúde, Humberto, inaugurou ontem a Unidade de Laboratório Celular do Instituto Nacional de Cardiologia de Laranjeiras (INCL), no Rio, o centro de pesquisa que coordenará o maior estudo com células-tronco adultas já feito no mundo. O estudo vai envolver 1200 pacientes e pretende confirmar a eficácia do uso desse tipo de célula no tratamento, especificamente, de problemas cardíacos e verificar a viabilidade de substituição do uso dos tratamentos tradicionais, como o transplante.

- Essa pesquisa nos colocará na vanguarda no mundo e confirmará pesquisas anteriores. Com isso, o sistema público tem acesso a um tratamento de ponta - disse o ministro.

As doenças de coração afetam 4 milhões de brasileiros. Se o projeto comprovar que realmente melhora as condições do paciente, estima-se que 200 mil vidas possam ser salvas em três anos. Além disso há a possibilidade de não ser mais necessário o transplante, onde o risco de rejeição sempre é alto, e fica descartada a intervenção cirúrgica, mais agressiva. Uma das vantagem do uso das células-tronco é a redução dos altos custos do tratamento cardíaco para o governo e para o paciente.

Fazem parte do projeto - denominado Estudo Multicêntrico Randomizado de Terapia Celular em Cardiopatias - 40 hospitais em todo o Brasil, dentre eles o Incor, de São Paulo. Na experiência serão formados quatro grupos iguais, de pacientes que apresentarem os seguintes problemas cardíacos: infarto agudo do miocárdio, doenças esquêmica crônica do coração, cardiomiopatia dilatada e cardiopatia decorrente do mal de Chagas.

Os interessados em participar podem procurar um dos centros (a lista está disponível no site: www.finep.gov.br) Em março começará a seleção dos candidatos, que serão submetidos a exames para avaliar sua condição cardiológica.

Valentim Ramos Costa, de 45 anos, sofre de miocardiopatia dilatada (inchaço do coração) há seis anos. A doença afeta rins e fígado e qualquer esforço o deixa cansado. Além disso, precisa dormir sentado, devido a dificuldades respiratórias. Valentim vai se candidatar à terapia.

- É uma esperança, mais possibilidade de realizar as minhas atividades normalmente. Gozar de uma vida com saúde. - afirma.

As pessoas com problemas cardíacos escolhidas serão submetidas à coletagem de medula óssea, de onde serão retiradas as células mononucleares para serem reinjetadas no coração.

Mas nem todos os selecionados farão o tratamento, só metade. E o paciente e o médico não saberão quem está participando. Este procedimento, chamado de duplo cego, visa evitar que os resultados registrados influenciem os pesquisadores.

As células-tronco tem a característica de poder gerar qualquer órgão do corpo.

- Elas teoricamente podem se transformar em qualquer coisa: músculo, vaso. É isso que queremos provar com a experiência. - explica o pesquisador do INCL, Bernardo Tura.