Título: O século ainda não é nosso
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 03/02/2005, Opinião, p. A10

Em mais um exemplo dos arroubos de otimismo a que vem acostumando os ouvidos da nação, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o século 21 será do Brasil. Respiremos aliviados com a reafirmação: o país passará ao grupo dos desenvolvidos nos próximos anos. Para não integrar a já extensa galeria de profecias emitidas pelo presidente - em geral conduzidas pela proclamação das próprias vitórias -, Lula condicionou o ingresso na primeira divisão dos países economicamente avançados à implementação das reformas. Fez bem. O Brasil começa 2005 sob o alívio da estabilização conjugada com expressivo crescimento econômico. Faltam, porém, bases mais firmes para que Lula se torne uma exceção numa história recente pródiga em hiatos de crescimento e vôos abortados. Para tanto, governo e Congresso precisam empenhar-se perenemente na condução de reformas institucionais de relevo.

Há uma agenda incompleta a cumprir, e é bom que o presidente se mostre consciente das exigências do futuro imediato. A história mostra que todas as tentativas de transformação do Estado diferentes do reformismo não sobreviveram à realidade. Um bom passo, é verdade, foi dado com o processo em curso de mudanças no Poder Judiciário. Inclui-se aí a necessidade de alterações constitucionais que reformulem os códigos do processo civil e penal para tornar a Justiça mais eficiente e acessível à população.

A agenda de reformas, contudo, é bem mais extensa. Requer, por exemplo, mudanças profundas na estrutura tributária (cuja reforma aprovada em 2003 não vem sendo cumprida), capaz de racionalizar os impostos. O Brasil precisa ainda reduzir o custo do emprego, por meio das reformas trabalhista e sindical. É tarefa urgente repensar também o modelo de Estado, tornando-o mais ágil e menos oneroso.

O século 21 já começou. Convém agir à altura.