Correio Braziliense, n. 21347, 26/08/2021. Saúde, p. 14

Vacina protege menos os imunodeprimidos
26/08/2021



Os primeiros dados do estudo em andamento Octave — que investiga a eficácia de vacinas contra a covid-19 em cortes de pacientes — mostram que uma proporção significativa de pessoas com sistema imunológico comprometido, como as em tratamento para câncer, apresentam uma resposta imune baixa ou mesmo indetectável após duas doses dos imunizantes.

Liderado pela Universidade de Glasgow, com participação de diversos centros médicos do Reino Unido, o Octave avalia as respostas imunológicas à vacinação em pacientes de câncer, artrite inflamatória, doenças renais ou hepáticas ou naqueles que estão sendo submetidos a um transplante de células-tronco. Esse é um dos maiores estudos do mundo sobre a imunização em imunocomprometidos.

Divulgados em artigo publicado na plataforma de preprint da The Lancet, ainda não revisado por pares, os dados referem-se a uma amostra de 600 pessoas e mostram que aproximadamente 11% dos imunocomprometidos não conseguem gerar quaisquer anticorpos quatro semanas após duas vacinas. A falha na geração da proteção foi detectada em maior proporção em alguns subgrupos específicos de pacientes.

Anticorpos

Entre aqueles com vasculites associadas ao anticorpo anticitoplasma de neutrófilo (tipo de inflamação nos vasos sanguíneos), 87% apresentaram baixos níveis de anticorpos após a imunização para a covid-19. Esse percentual foi de 51% para artrite inflamatória, 29% em pessoas na hemodiálise, 42% em hemodiálise recebendo terapia imunossupressora, 36% com doença hepática, 10% com câncer sólido, 33% com neoplasias hematológicas e 17% dos pacientes submetidos a transplante de células-tronco hematopoiéticas

"Embora saibamos que as vacinas para a covid-19 são altamente eficazes em indivíduos saudáveis, permanecem dúvidas sobre o quão eficazes são na proteção de doentes crônicos", comentou, em nota, Pam Kearns, pesquisadora da Universidade de Birmingham, que está coordenando o estudo. "Esses resultados preliminares e os próximos serão fundamentais para ajudar a informar a melhor forma de vacinar pacientes com doenças crônicas e protegê-las da infecção por Sars-CoV-2."

Para Eleanor Riley, professora de Imunologia e Doenças Infecciosas da Universidade de Edimburgo, que não participou do estudo, os resultados trazem dados importantes para as campanhas de vacinação destinadas a esse público. "Pessoas que estão em tratamentos especificamente concebidos para suprimir o sistema imunológico são motivo de particular preocupação. Mas muitos desses pacientes apresentaram uma resposta detectável de anticorpos e sua resposta aumentou novamente após a segunda dose da vacina. É bem possível que tenham uma ainda melhor após uma terceira dose", disse.

A professora ressaltou que qualquer pessoa em tratamento de câncer e outras condições que comprometam o sistema imunológico devem continuar a seguir os conselhos de seus médicos. "Encorajamos todos os que puderem a tomar a vacina."