Correio Braziliense, n. 21349, 28/08/2021. Ciência & Saúde, p. 12

Delta pode dobrar risco de internação
28/08/2021



A vulnerabilidade é duas vezes maior quando comparada à dos infectados pela cepa Alfa, mostra pesquisa com mais de 40 mil pacientesA covid-19 provocada pela variante Delta do Sars-CoV-2 dobra o risco de hospitalização, se comparada à infecção causada pela cepa Alfa, que foi identificada antes por cientistas. Pesquisadores britânicos chegaram a essa conclusão após avaliar dados médicos de mais de 40 mil pessoas que testaram positivo para a enfermidade. Segundo os autores do trabalho publicado na revista The Lancet, os dados obtidos reforçam a necessidade de vacinação da população e da atenção aos possíveis impactos na estrutura de saúde em decorrência do avanço da forma mais transmissível do coronavírus.

A equipe analisou informações médicas de 43.338 infectados na Inglaterra, entre o período de 29 de março e 23 de maio de 2021, incluindo informações sobre o estado de vacinação, a necessidade de atendimento de emergência e a admissão hospitalar. Os pesquisadores colheram amostras sanguíneas de todos os voluntários e submeteram o material a um sequenciamento do genoma completo para confirmar a variante responsável pela infecção.

Observou-se uma taxa mais alta de casos provocados pela variante Alfa (80%), identificada, pela primeira vez, no Reino Unido, em comparação à Delta (20%), cujos primeiros casos surgiram na Índia. "Embora a proporção de casos Delta na época em que fizemos o estudo tenha sido de apenas 20%, ela cresceu nos meses seguintes e passou a representar cerca de dois terços dos novos casos de covid-19 registrados no país, ultrapassando a Alfa e se tornando a variante dominante na Inglaterra", detalham os autores.

Após uma análise estatística ampla — que levou em conta os fatores já conhecidos por afetar a suscetibilidade à forma grave da covid-19, incluindo idade, etnia e estado de vacinação —, os pesquisadores descobriram que o risco de ser internado em um hospital era mais do que o dobro em decorrência da infecção pela Delta, em comparação à Alfa (aumento de 2,26 vezes). Considerando o risco de internação e o de necessidade de um atendimento de emergência, o risco é 1 vez e meia maior.

"Esse estudo confirma suspeitas de que as pessoas infectadas com Delta são, significativamente, mais propensas a necessitar de hospitalização do que aquelas com Alfa, algo que ainda não havia sido observado em um estudo detalhado", enfatiza, em comunicado, Gavin Dabrera, um dos principais autores do estudo e epidemiologista consultor do Serviço Nacional de Infecção e Saúde Pública da Inglaterra.

Não vacinados

Outro dado interessante obtido na análise reforça a necessidade de completar a vacinação contra a covid-19 para evitar a infecção por qualquer variante do Sars-CoV-2. No estudo, apenas 1,8% dos casos de covid-19 (com qualquer uma das cepas) havia recebido o regime completo da vacina. Por outro lado, 74% dos casos não foram vacinados e 24% foram parcialmente vacinados.

"Já sabemos que a vacinação oferece excelente proteção contra a Delta e, como essa variante é responsável por mais de 98% dos casos de covid-19 no Reino Unido atualmente, é vital que aqueles que não receberam duas doses do imunizante o façam o mais rápido possível", frisa Dabrera. "Também é importante que, ao apresentar sintomas da doença, a pessoa fique em casa e faça um teste de PCR o mais rápido possível", completa.

Os autores ponderam que há limitações no estudo. Eles não tiveram acesso a informações sobre as condições de saúde preexistentes dos pacientes, o que afeta a vulnerabilidade à covid-19. Além disso, há o risco de ocorrência de variáveis não controláveis, como a ocorrência de mudanças na política de internação em hospitais durante o período de análise.

Apesar dos entraves, eles enfatizam que a pesquisa é mais uma prova da importância da vacinação. "Nossa análise destaca que, na ausência de vacinas, qualquer surto Delta representará um fardo maior para a saúde do que uma epidemia Alfa. A imunização completa é crucial para reduzir o risco de um indivíduo ser internado. É essencial reduzir as chances de doença grave provocada pela variante Delta, e nós vamos conseguir isso com a vacina", afirma Anne Presanis, uma das autoras do estudo e pesquisadora da Unidade de Bioestatística da Universidade de Cambridge.