Correio Braziliense, n. 21349, 28/08/2021. Política, p. 3

Delegado é afastado de inquérito
Augusto Fernandes
28/08/2021



Ministro Alexandre de Moraes, do Supremo, determina a retirada do responsável pela investigação sobre a suposta interferência de Bolsonaro na Polícia Federal. Agente teria buscado informações sobre fatos não relacionados com a apuração

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), retirou o delegado da Polícia Federal Felipe Alcântara de Barroso Leal do inquérito que investiga se o presidente Jair Bolsonaro tentou interferir politicamente na corporação.

Moraes tomou a decisão porque Leal tentou incluir na apuração fatos que não estavam relacionados ao inquérito, como atos administrativos do atual diretor-geral da PF, Paulo Mauirino, que tomou posse em abril deste ano. O delegado requisitou, por exemplo, informações sobre a exoneração do ex-superintendente da corporação no Amazonas Alexandre Saraiva, que pediu uma investigação contra o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, após enviar ao Supremo Tribunal Federal (STF) uma notícia-crime contra o ex-integrante do governo por organização criminosa e favorecimento a madeireiros. Saraiva foi retirado da função também em abril deste ano.

Além disso, de acordo com Moraes, Leal solicitou que a Procuradoria-Geral da República (PGR) enviasse documentos sobre um processo aberto para verificar se a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) emitiram relatórios para orientar a defesa do senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) no caso das rachadinhas.

Segundo o ministro, "não há qualquer pertinência entre as novas providências referidas e o objeto da investigação". "As providências determinadas não estão no escopo desta investigação, pois se referem a atos que teriam sido efetivados no comando do DPF Paulo Maiurino, que assumiu a Diretoria-Geral da Polícia Federal em 6/4/2021, ou seja, após os fatos apurados no presente inquérito e sem qualquer relação com o mesmo", constatou. O magistrado tornou sem efeito as diligências requeridas por Leal e determinou que Mauirino escolha um novo delegado para cuidar das investigações.
A apuração sobre interferência indevida na PF foi aberta no final de abril de 2020, a partir de informações apresentadas pelo ex-ministro da Justiça Sergio Moro, que deixou o governo acusando Bolsonaro de substituir nomeados em cargos estratégicos da corporação para blindar familiares e aliados de investigações.

Desde setembro do ano passado, o inquérito estava praticamente parado, aguardando uma decisão do STF sobre o formato do depoimento do presidente, se presencial ou por escrito. O interrogatório do chefe do Executivo era considerado a última pendência para produção do relatório final com a conclusão das apurações.

Com a volta do delegado Felipe Leal para o caso, em julho, uma nova frente tinha sido aberta para apurar atos administrativos de Maiurino.