Correio Braziliense, n.20746, 11/03/2020. Política. p.3
Guedes lista prioridades para o Congresso...
Marina Barbosa
Ministro envia aos presidentes da Câmara e do Senado uma relação de projetos que considera importantes para recuperar a economia e pede que parlamento os aprove com mais celeridade
Cobrado a apresentar uma resposta efetiva à crise que vem tomando conta da economia do planeta, o ministro da Economia, Paulo Guedes, voltou a dizer, ontem, que o Brasil pode escapar de uma possível recessão mundial se fizer o seu dever de casa. Desta vez, porém, ele decidiu deixar mais claro que “dever de casa” é esse. Por isso, enviou aos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), a relação de projetos que considera importantes para a recuperação da economia nacional. Essa lista, contudo, não se limita às reformas e conta com 48 propostas diferentes, das quais 19 são consideradas prioritárias e deveriam ser aprovadas pelo parlamento ainda neste semestre, segundo Guedes.
“Considerando o agravamento da crise internacional em função da disseminação do coronavírus e a necessidade de blindagem da economia brasileira, o Ministério da Economia propõe acelerar a pauta que vem conduzindo junto ao Congresso Nacional”, começou Guedes, no ofício a Maia e a Alcolumbre. O ministro da Economia ainda diz que avançar com a pauta no Congresso é extremamente relevante para “resguardar a economia do país, aumentar a segurança jurídica para os negócios e atrair investimentos”. “A equipe econômica monitora atentamente a evolução dos cenários internacional e doméstico. Com a continuidade de reformas estruturais que o país precisa, será possível recuperar espaço fiscal suficiente para a concessão de outros estímulos à economia”, disse o ministro. Ele colocou as reformas, portanto, como uma forma de o Brasil escapar da crise mundial deflagrada pelo coronavírus e pela redução dos preços internacionais do petróleo.
Na lista de projetos prioritários de Guedes, contudo, não estão apenas as propostas que já são tratadas como prioridade pelo Congresso, mas também projetos como o plano de equilíbrio fiscal dos estados, a privatização da Eletrobras, o novo marco legal do setor elétrico e a MP do Emprego Verde e Amarelo (veja quadro).
“O esforço para a aprovação, neste semestre, das matérias listadas tem a capacidade de proteger o Brasil da crise externa”, alegou Guedes, que, dessa forma, cita como prazo ideal de aprovação dessas matérias o mesmo período de tempo que parece ter recebido do presidente Jair Bolsonaro como prazo para mostrar resultado.
O prazo, porém, parece apertado para alguns parlamentares. “E a reforma tributária? Quando vem?”, questionou o líder do PSB na Câmara, Alessandro Molon (RJ), lembrando que o governo ainda não enviou o texto de duas das suas principais propostas dessa lista: as reformas tributária e administrativa. “É muito pouco provável aprovar tudo nesse período, principalmente diante da confusão que o chefe dele vem criando”, afirmou o líder da oposição no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), citando a convocação feita por Bolsonaro para as manifestações do dia 15 — contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal.
Molon e Randolfe ainda classificaram a lista de Guedes como “mais do mesmo”. “Mais daquilo que já não vem dando resultado, veja-se o pibinho de Bolsonaro. O governo precisa entender que, se não houver investimento público, o país vai afundar na crise”, criticou Molon. “Como quer resultado fazendo tudo igual? Guedes quer insistir em uma agenda ortodoxa que nos levou ao aprofundamento da crise. Até economistas liberais têm dito que, em momentos de recessão profunda, são necessárias medidas anticíclicas”, acrescentou Randolfe.
Clima
Líder do governo no Congresso, o senador Eduardo Gomes (MDB-TO) repetiu o discurso de Guedes de que essas propostas podem amortecer o impacto da crise mundial deflagrada pelo coronavírus. Ele ainda garantiu que há clima político para votar todas as propostas neste semestre, mesmo depois dos recentes atritos entre o Congresso e o Executivo. “O clima de ontem não é o mesmo de hoje nem o mesmo de amanhã. É uma questão de diálogo. A gente espera que seja, de fato, criado um clima de parceria e proteção para a economia brasileira, que vai precisar”, afirmou, dizendo que “esse clima está sendo criado”.
Para tentar aplacar algumas dessas críticas, Guedes prometeu, no ofício enviado ao Congresso, que o texto da reforma administrativa “será encaminhado em breve pelo presidente da República”. E afirmou que a “equipe técnica do Ministério da Economia vem trabalhando para finalizar as contribuições do Poder Executivo” para a reforma tributária e, assim, apresentar um “texto conciliatório com as propostas que já estão em tramitação no Congresso”.
Os projetos prioritários para Guedes
Câmara
PEC 188/2019 Pacto Federativo
PEC 197/2019 Fundos Públicos
PEC 186/2019 Emergencial
PL 6407/2013 Nova Lei do Gás
PLP 149/2019 Plano de Equilíbrio Fiscal
PLP 200/1989 Autonomia do Banco Central
PL 5877/2019 Privatização da Eletrobras
PL 6229/2005 Recuperação Judicial
PL 5387/2019 Simplificação de Legislação de Câmbio
PL 3443/2019 Governo Digital
PL 7316/2019 Certificação Digital
PLP 295/2016 Nova Lei de Finanças Públicas
PL 7063/2017 Lei de Concessões
Senado
PLS 232/2016 Marco Legal do Setor Elétrico
PLS 261/2018 Novo Marco Legal de Ferrovias
PL 3261/2019 Marco Legal do Saneamento Básico
PL 3178/2019 Alteração do Regime de Partilha
Congresso
MP 902/2019 MP da Casa da Moeda
MP 905/2019 MP Emprego Verde e Amarelo
Fonte: Ministério da Economia