Correio Braziliense, n. 20603, 20/10/2019. Política, p. 3

Foco é mostrar país mais atrativo

Rosana Hessel
Augusto Fernandes


Os países do roteiro da viagem do presidente Jair Bolsonaro são importantes destinos de commodities e de carnes brasileiras. Juntos, respondem por quase 32% das exportações brasileiras, sendo a China o principal destino. Um dos focos principais do governo com essa viagem é justamente a Ásia.

Destino de 40,5% das exportações nacionais entre janeiro e setembro deste ano, o continente surge como um importante mercado para o país viabilizar a assinatura de acordos internacionais, segundo a diplomacia do governo. Em 2019, os asiáticos importaram US$ 67,8 bilhões do Brasil até setembro. China e Japão, países onde Bolsonaro participará da maior quantidade de eventos, representam 73,5% das transações.

O secretário de Negociações Bilaterais na Ásia, Pacífico e Rússia do Ministério das Relações Exteriores, embaixador Reinaldo José de Almeida Salgado, na China, explica que a estratégia será otimizar setores prioritários ao Executivo. “São três áreas principais: exportações de produtos nacionais, atração de investimentos, entre elas mostrar o trabalho no Brasil nas PPPs (Parcerias Público-Privadas) e na parte empresarial, e também melhorar o aproveitamento da ciência, tecnologia e informação”, garante.

A China é o maior parceiro comercial do Brasil. Responde por 27,6% das exportações brasileiras, com destaque para soja, minério de ferro e petróleo. O presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, lembra que 96% dos produtos embarcados são commodities e o país tem dificuldade para conseguir exportar manufaturados para lá. “O Brasil não consegue vender produtos de maior valor agregado para os chineses, porque não é competitivo devido aos custos logísticos e tributários, que encarecem 30% as vendas para o exterior. Por isso, vamos continuar vendendo apenas para a América do Sul, que é mais próxima. A China é um grande importador global, mas não temos competência para vender para esse mercado”, lamenta.

Em relação às nações árabes, que costumam comprar bastante carne, milho e soja do Brasil, Castro vê algum potencial de crescimento. “O comércio com esses países tem perspectivas para crescer, mas são campos minados. O governo não pode emitir opiniões durante a viagem”, alerta Castro.

Como o país tem boas relações diplomáticas com o Japão, o objetivo é expandir a sintonia para que as partes entrem em consenso quanto a uma proposta de livre-comércio, que torne as relações bilaterais mais dinâmicas, diz Salgado. “A expectativa é mostrar um país aberto e atrativo para investimentos. O governo brasileiro tem feito esforço de pensar em um lançamento de um diálogo mais estruturado de livre-comércio. Se a gente não correr atrás, tende a declinar (essa relação)”, avalia.

Fontes próximas aos negociadores adiantaram que está difícil conseguir fechar acordos com os chineses. Vários empresários convidados desistiram de embarcar rumo a Pequim e há um certo risco de esvaziamento do evento organizado pelos brasileiros lá. A maior empolgação em relação ao roteiro entre integrantes da comitiva está nos Emirados Árabes, onde há bastante interesse de investidores no Brasil.

“A expectativa é mostrar um país aberto e atrativo para investimentos. O governo brasileiro tem feito esforço de pensar em um lançamento de um diálogo mais estruturado de livre- comércio. Se a gente não correr atrás, tende a declinar (essa relação)”

Reinaldo José de Almeida Salgado, secretário de Negociações Bilaterais na Ásia, Pacífico e Rússia do MRE

Parceiros de peso *

Entre os países que serão visitados pelo presidente Jair Bolsonaro, a China é o que tem maior participação na balança comercial nacional

Japão

Exportações US$ 3,7 bilhões
Importações US$ 3,2 bilhões
Saldo comercial US$ 537,7 milhões
Posição no ranking de exportações brasileiras 6º
Participação nas exportações brasileiras 2,2%
Participação nas importações brasileiras 2,4%

China

Exportações US$ 46,2 bilhões
Importações US$ 26,6 bilhões
Saldo comercial US$ 19,6 bilhões
Posição no ranking de exportações brasileiras 1º
Participação nas exportações brasileiras 27,6%
Participação nas importações brasileiras 19,9%

Emirados Árabes

Exportações US$ 1,7 bilhão
Importações US$ 399,8 milhões
Saldo comercial US$ 1,3 bilhão
Posição no ranking de exportações brasileiras 24º
Participação nas exportações brasileiras 1%
Participação nas importações brasileiras 0,3%

Catar

Exportações US$ 339,7 milhões
Importações US$ 177,3 milhões
Saldo comercial US$ 162,4 milhões
Posição no ranking de exportações brasileiras 56º
Participação nas exportações brasileiras 0,2%
Participação nas importações brasileiras 0,1%

Arábia Saudita

Exportações US$ 1,5 bilhão
Importações US$ 1,7 bilhão
Saldo comercial -US$ 184,8 milhões
Posição no ranking de exportações brasileiras 28º
Participação nas exportações brasileiras 0,9%
Participação nas importações brasileiras 1,3%

*no acumulado de janeiro a setembro de 2019

Fonte: Secex/Ministério da Economia