Correio Braziliense, n. 20601, 18/10/2019. Mundo, p. 13

Vaga para a Venezuela



Sob críticas e protestos de ONGs e de governos da América Latina, a Venezuela conquistou ontem uma das duas vagas destinadas à região no Conselho de Direitos Humanos (CDH) das Nações Unidas, para o biênio 2020-2022. Com o voto de 105 dos 293 países que integram a Assembleia-Geral da ONU, o regime de Caracas derrotou a candidatura da Costa Rica, que teve o apoio de 96 nações. A outra vaga destinada à América Latina ficou com o Brasil, que obteve 153. A escolha é feita por voto secreto.

A vitória da Venezuela, a despeito de ter sido objeto de um duro relatório divulgado recentemente pela alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, foi recebida como ;um tapa na cara; da comunidade internacional por Philippe Bolopion, diretor da Human Rights Watch. A ONG fez campanha contra a candidatura de Caracas ao lado de 50 organizações internacionais e venezuelanas. O governo do presidente Nicolás Maduro celebrou o resultado como uma grande vitória.

É desestimulante ver uma candidatura cínica manchar a credibilidade do Conselho de Direitos Humanos;, lamentou o diretor da Human Rights Watch. O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, considerou a presença de Caracas ;inadmissível;. No fim de setembro, o CDH criou um grupo de especialistas encarregados de investigar as denúncias de violação dos direitos humanos na Venezuela desde 2014, uma iniciativa considerada hostil pelo governo de Caracas.

Com sede em Genebra, o CDH tem a responsabilidade de promover a proteção dos princípios consagrados na Declaração Universal reconhecida pela ONU. Todos os anos, a Assembleia-Geral renova um terço dos 47 membros. Nenhum país pode exercer mais de dois mandatos consecutivos. O Brasil obteve a reeleição pela segunda vez. Entre os países escolhidos ontem estão outros cujos governos são questionados pela situação dos direitos humanos, como é o caso de Líbia e Indonésia.

No caso venezuelano, pesou a seu favor a condição de exercer atualmente a presidência rotativa do Movimento dos Países Não Alinhados, ao qual pertencem 73 integrantes da ONU. Os Estados Unidos abandonaram o organismo por considerá-lo hostil ao aliado Israel.

"É desestimulante ver uma candidatura cínica manchar a credibilidade do Conselho de Direitos Humanos;
Philippe Bolopion, diretor da Human Rights Watch"