Título: KGB ordenou atentado
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 31/03/2005, Internacional, p. A9

Documentos do antigo serviço secreto da Alemanha Oriental, a Stasi, confirmam que o atentado contra o Papa João Paulo II em 1981 foi ordenado pela KGB e executado pelos serviços secretos búlgaros, publicou o diário italiano Corriere della Sera.

Os papéis foram encontrados pelo governo alemão nos arquivos da Stasi, afirma o jornal.

''A KGB (antigo serviço secreto da URSS) ordenou o atentado, os serviços búlgaros foram os executores (confiando a Ali Agca e a outros terroristas turcos o papel de assassinos), e a RDA (Alemanha Oriental) se encarregou de toda a operação e das manobras de eliminação de pistas'', afirma o Corriere della Sera.

Os documentos, a maioria cartas trocadas entre o serviço secreto da Alemanha Oriental e seus colegas búlgaros, foram colocados à disposição da Itália, onde serão confiados à comissão parlamentar que investiga as atividades dos serviços secretos dos países do Leste europeu na Itália.

Os papéis, de acordo com o diário, ainda se encontram em Sófia, capital da Bulgária.

A investigação reforça a tese que João Paulo II expôs em seu último livro, ''Memória e identidade''. O papa se declara convencido de que Mehmet Ali Agca, quem atirou e quase o matou na praça São Pedro, não cometeu o atentado por iniciativa própria.

Além disso, os documentos também confirmam a hipótese denunciada esta semana pelo juiz italiano Ferdinando Imposimato - que trabalhou no caso-, ao popular semanário Oggi.

Ele manteve conversas com Markus Wolf, o mítico comandante da Stasi, e ao investigar nos arquivos secretos da Stasi se convenceu de que o atentado foi por vontade da KGB, que o encarregou aos irmãos do serviços da ex-Alemanha Oriental e da Bulgária.

Segundo o juiz, o falido atentado não parou por aí. Chegou a ter início uma segunda fase do plano, batizada de operação Papst, cujo objetivo era convencer o papa e o então presidente italiano, Sandro Pertini, de libertar Agca, que no cárcere começava a confessar.

O plano inteiro do assassinato do ''incômodo'' papa polonês, segundo as fontes, teria nascido em 1979, durante uma reunião na atual província ucraniana de Crimeia, na qual Andrej Gromiko, administrador de Breznev, teria assegurado a seu colega polaco na ocasião que o ''problema'' seria resolvido em breve.