O Estado de São Paulo, n. 46545, 25/03/2021. Metrópole. p.A17

SP vacinará professores e policiais em abril

 

 

Medida atinge, de início, 350 mil na área educacional e 180 mil na de segurança

Renata Cafardo

Júlia Marques

João Ker

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), anunciou ontem o início da vacinação para professores e policiais. A vacinação de profissionais da segurança pública começará em 5 de abril e a dos profissionais de educação, a partir do dia 12. A imunização para idosos de 69, 70 e 71 começa amanhã, mas ainda não há data para as demais faixas etárias de 60 anos ou mais.

A imunização de profissionais da educação básica vai abranger todos os professores, da rede pública e privada, a partir dos 47 anos. Essa primeira etapa abrangerá 350 mil professores, diretores de escolas, inspetores de alunos e outros profissionais que trabalham nas escolas das redes municipal, estadual e privada do Estado. Esse contingente corresponde a 40% dos profissionais.

Para os profissionais da educação privada, o Estado vai exigir contracheques dos últimos 2 meses que comprovem o exercício da função, com o objetivo de evitar fraudes. Aqueles que forem terceirizados – como merendeiras e faxineiros – terão de preencher cadastro prévio que será validado pelo diretor da instituição. O governo ainda vai avaliar a vacinação dos professores para incluir outras idades no Plano Estadual de Imunização aos poucos.

"A educação básica é nossa prioridade absoluta", disse Rossieli Soares, secretário estadual da Educação. "Cerca de 56% das crianças aprendiam a alfabetização no fim do 1.º ano, antes da pandemia. Hoje, esse número não chega a 21% e traz em si ainda mais desigualdade, porque aqueles que estão aprendendo não são os que mais precisam." A vacinação dos profissionais da educação era demanda da categoria para a volta às aulas.

Cerca de 180 mil profissionais de segurança pública também serão imunizados, entre agentes ativos de Polícia Militar, Civil, Científica e da escolta penitenciária, além de todas as guardas civis e metropolitanas. "Esses profissionais são essenciais e estão expostos diariamente na rua, cumprindo seu dever e obrigação de proteger a população, mas também os que estão nos serviços essenciais e na linha de frente, os profissionais da saúde", afirmou Doria. Conforme o general João Campos, secretário da Segurança Pública, ao menos 79 policiais da ativa morreram em São Paulo após se infectarem – 56% deles entre 46 e 55 anos.

A nova data para idosos entre 69 e 71 anos, que começa amanhã, também deve atender outras 910 mil pessoas. "Se tivéssemos mais vacinas, conseguiríamos abrir mais o público-alvo", afirmou Regiane de Paula, coordenadora geral do Programa Estadual de Imunização. A principal vacina disponível no País é a Coronavac, produzida pelo Instituto Butantan/sinovac, responsável por nove entre dez imunizações já feitas.

O Plano Nacional de Imunização prevê que a vacinação de profissionais da educação deve ser após a imunização de idosos. Especialistas divergem sobre a mudança .

Próximas fases. O Estado tem cerca de 4 milhões de moradores de 60 a 69 anos. O governo disse apenas que a vacinação dos idosos será concomitante à imunização das categorias profissionais e que novas faixas etárias ainda serão anunciadas.

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Queiroga promete imunizar 1 milhão por dia

 


Novo ministro da Saúde diz ser preciso evitar lockdown; ele criará um núcleo específico para tratar do coronavírus

Mateus Vargas

Emilly Behnke / BRASÍLIA

No dia em que o Brasil ultrapassou a marca de 300 mil mortos pela covid-19, o novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou que pretende acelerar a vacinação no País, saltando das atuais 300 mil aplicações para 1 milhão por dia. Em sua primeira entrevista após assumir o cargo, ele demonstrou alinhamento ao presidente Jair Bolsonaro e disse ser preciso evitar o lockdown, que inclui medidas como fechamento de escolas, comércio e restrições de circulação. "Quem quer lockdown? Ninguém quer lockdown."

A meta de vacinar 1 milhão de pessoas por dia depende mais da chegada das doses do que da capacidade da rede pública. Em 2019, por exemplo, foram vacinadas 5,5 milhões de pessoas contra a gripe no "dia D", feito em maio. Já em 2010 a campanha de vacinação contra a H1N1 vacinou 81 milhões de pessoas em 3 meses. A expectativa do Ministério da Saúde é receber 38 milhões de unidades de imunizantes contra a covid-19 no mês que vem.

Ao se opor a um lockdown nacional, Queiroga disse que uma comissão formada por representantes dos Estados e Congresso vai discutir "políticas de distanciamento social que sejam adequadas". "O que nós temos, do ponto de vista prático, é adotar medidas sanitárias eficientes que evitem lockdown. Até porque a população não adere a lockdown", afirmou. Bolsonaro tem feito críticas a medidas mais rígidas para evitar a propagação do vírus, como lockdown e toques de recolher, e chegou a ingressar com ação no Supremo Tribunal Federal contra restrições adotadas em três Estados.

Em boletim extraordinário do Observatório covid-19 da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) divulgado nesta terça, pesquisadores falam em "crise humanitária"e pedem adoção imediata de lockdown por pelo menos 14 dias. Segundo a instituição, essa seria a forma de reduzir o ritmo de transmissão da doença e aliviar a pressão nos hospitais.

O médico também evitou críticas a bandeiras do governo Bolsonaro, como o tratamento precoce com o uso de medicamentos sem eficácia, como a cloroquina. Ele afirmou que o uso dos remédios deve ser discutido entre médicos e pacientes. "Temos de olhar para a frente."

Ele confirmou que vai substituir militares de cargos estratégicos da Saúde. O médico disse que terá liberdade para montar a sua equipe.

Para o cargo de secretário executivo, o "número 2" da pasta, será nomeado o engenheiro Rodrigo Otávio da Cruz. O posto hoje é ocupado pelo coronel da reserva Élcio Franco. Já o médico Sérgio Yoshimasa assumirá a Secretaria de Atenção Especializada à Saúde (Saes), comandada atualmente pelo coronel Franco Duarte. A área lida com o envio de recursos e insumos a hospitais em todo o País.

Secretaria. O novo ministro também disse que vai criar uma secretaria para tratar apenas de assuntos relativos à covid-19. Ele afirmou que a pasta terá um núcleo para avaliar protocolos do tratamento da doença, liderado pelo professor Carlos Carvalho, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

Questionado sobre o que fará de diferente do seu antecessor, Eduardo Pazuello, na Saúde, o cardiologista se esquivou. "Vocês vão perceber ao longo do tempo." Queiroga assume o cargo no momento em que a pandemia está descontrolada. Além disso, Bolsonaro está sob forte pressão e tenta dar sinais de que não é negacionista, ao passar a usar máscara e defender a vacinação. O presidente, porém, ainda defende tratamentos sem eficácia e rejeita a adoção de medidas mais rígidas para evitar a circulação do vírus.

Assunto passado

"Temos de olhar para frente."

Marcelo Queiroga

MINISTRO DA SAÚDE, INDAGADO SOBRE A INDICAÇÃO DE CLOROQUINA

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Ernesto Araújo acha difícil obter vacina dos EUA

 

Felipe Frazão/ BRASÍLIA

O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, afirmou ontem que considera "difícil" o Brasil obter dos Estados Unidos a liberação para compra de milhares de vacinas da Astrazeneca/oxford estocadas e ainda não aplicadas contra a covid-19 naquele país. Ao falar em audiência na Câmara dos Deputados, o ministro também indicou que o Ministério da Saúde pode sofrer novos atrasos no fornecimento de doses do imunizante que são fabricadas na Índia. Ele não citou a quantidade exata. Mas disse que dificuldades na produção podem afetar o fornecimento de milhares de unidades já contratadas pelo governo federal.

O chanceler disse que não poderia dar prazos para que o Brasil efetivamente receba uma parte das vacinas solicitadas ao governo norte-americano. Segundo Ernesto, apesar de apelos do Itamaraty e do Congresso ao governo Joe Biden, o excedente de vacinas "está se materializando devagar" nos EUA.

Pressionada pela comunidade internacional, a Casa Branca anunciou ter 7 milhões de doses em estoque e já autorizou o envio de parte para o México (2,5 milhões) e o Canadá (1,5 milhões). Isso porque a vacina da Astrazeneca/oxford ainda não obteve autorização de uso no território americano.

"O Brasil está negociando para procurar receber uma parte desse excedente, mas por enquanto esse excedente é algo extremamente limitado, porque está sujeito à regulação dos Estados Unidos", disse o chanceler aos deputados.

Em paralelo, ele indicou que o governo tem "boa perspectiva" de conseguir "kits de intubação" e máquinas de produção de oxigênio nos EUA.