Correio Braziliense, n. 20599, 16/10/2019. Política, p. 4

Esforço pela integridade

Luiz Calcagno


A ala fiel do PSL no Congresso se articula para dar respostas aos separatistas e a Jair Bolsonaro. O primeiro recado é que os caciques do partido não têm intenção de desatar os laços feitos em 7 de março de 2018, quando o presidente e os filhos se filiaram à legenda. Amanhã, o presidente da legenda, deputado Luciano Bivar (PE), chega a Brasília e se reunirá com parlamentares para debater as divergências. Mas, ontem, por duas vezes, a sigla votou diferente do governo em requerimentos, e o líder na Câmara, Delegado Waldir (GO), disse que não há negociação para que deixem a agremiação — e os que tentarem perderão o mandato.

No primeiro requerimento, de votação nominal da MP 886/19, que altera a organização de órgãos da Presidência da República e dos ministérios, a orientação do governo era votar contra. O PSL obstruiu. O segundo, de adiamento da votação, a mesma coisa. Waldir justificou a estratégia ao dizer que estava protegendo os parlamentares que estavam em reunião.

“Em relação a essa obstrução, os parlamentares, em sua maioria, estavam em reunião na liderança. E para que não levassem falta, tive que sair correndo duas vezes (uma para cada requerimento). Vou alterar essa adequação. Somos governo”, garantiu, apesar de deputados dissidentes chegarem a colher assinaturas contra o líder, afirmando que ele estava orientando contra a própria sigla.

A reunião realmente aconteceu. Após o encontro, Waldir saiu pregando um partido unido. “Continuamos defendendo o governo. Somos Bolsonaro, somos Luciano Bivar, somos PSL”, disse.

Apesar do discurso, disse que quem sair do partido perderá o mandato. E classificou como “circo” a operação da Polícia Federal contra Bivar, suspeito de montar um esquema de laranjas para reutilizar a verba eleitoral. O líder garantiu que a sigla continuará a votar pelos projetos do governo.

“Nós somos de direita, conservadores, fomos eleitos com a mesma pauta. Mas, nesse momento, a pauta tem que ser geração de emprego, redução da pobreza”, amenizou.

Sobre a transparência do partido, foi direto. Disse que é a favor e que entrará com um projeto de lei para abrir os gastos de todos os cartões corporativos, incluindo o de Bolsonaro. “O PSL, para quem não sabe, tem todas as suas contas prestadas anualmente. Se alguém tiver curiosidade, é só entrar no TSE. Está lá para todo mundo assistir e ver. Inclusive, a última do presidente da República. Não sei o que querem mais. Querem criar um teatro para que parlamentares ganhem seus mandatos. Isso não vai acontecer. O controle do partido não sairá das mãos do presidente Luciano Bivar. O partido não está à venda. Ninguém vai tomar o partido na mão grande. Ninguém! Quem quiser uma casa tem que construir com tijolos. Eu posso ceder a casa de aluguel, para morar, mas querer invadir uma casa e querer tomar essa casa à força, para se apropriar dos móveis e dos objetos dessa casa, isso não vai acontecer”, avisou Waldir.

Ataque e insatisfação

Do grupo dissidente, Bibo Nunes (PSL-RS), que perdeu o cargo de vice-líder e as comissões, partiu para o ataque. Disse encarar com normalidade a operação da PF e que já esperava que acontecesse. Afirmou que o partido só se importa com dinheiro e chamou Bivar de “coronel”.

“Na crise, (a operação da PF) só dá mais subsídios para nós que somos contra o PSL e Bivar. Eu estou há três meses nessa luta. E fico muito feliz porque isso demonstra que estamos com a razão. Como um partido que demonstra uma política séria vai permitir ter no seu comando um presidente que é visitado pela manhã pela PF? Não presta contas. É um coronel do partido. Se intitula dono. Em janeiro, ele simplesmente criou um novo estatuto, sem consultar ninguém. Ao bel-prazer”, atacou.

Líder do PSL no Senado, Major Olímpio (SP), que também participou da reunião no fim da tarde, foi conciliador. “Continuamos a defender o governo Bolsonaro, as pautas de governo. E vamos acompanhar os próximos desdobramentos. Amanhã, o Bivar, que é o presidente nacional do partido, estará aí. Aí, talvez nós tenhamos alguma coisa a deliberar. Hoje não tivemos”, afirmou.