Correio Braziliense, n. 21351, 30/08/2021. Política, p. 5

PSDB tenta liderar 3ª via
Augusto Fernandes
30/08/2021



Apesar de ter perdido protagonismo nas urnas, tucanos querem se reapresentar ao eleitor como a opção mais viável aos extremos de Lula e Bolsonaro. Mas, antes, tem um problema: superar as dificuldades internas em torno de um nome de consenso

Na tentativa de retomar uma posição de protagonismo no cenário político, que já ocupou com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso por duas vezes, o PSDB busca despontar como a melhor opção de terceira via para as eleições à Presidência da República de 2022. Mas passa por um momento de disputa interna que dificulta a construção de um consenso sobre qual pode ser o candidato da legenda para o ano que vem.

A pouco menos de três meses para as prévias do partido que definirão quem vai representar os tucanos, os políticos filiados à sigla que estão na corrida pelo Palácio do Planalto não estão no mesmo compasso. Enquanto uns estão em ritmo de campanha, com direito a slogan e comício com apoiadores ao som de escola de samba, outros trabalham mais comedidamente, articulando as estratégias apenas por telefone ou reuniões por videoconferência.

Mesmo diante de uma alta taxa de rejeição entre os brasileiros, de 37%, segundo a pesquisa mais recente do Datafolha — que é a mesma do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e inferior apenas à do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), cujo índice é de 59% —, o governador de São Paulo, João Doria, tem conciliado o trabalho à frente do estado com viagens pelo país em busca de apoio. Hoje, é tido como um dos preferidos do presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo.

Em um evento no último dia 18, na capital paulista, que marcou o retorno das atividades presenciais da legenda, Doria e Araújo estavam lado a lado no palco. Panfletos de apoio ao governador foram distribuídos entre os militantes e faixas com frases incentivando a candidatura do governador ao Planalto decoravam o ambiente. Uma delas dizia: "Brasil pra frente, João Doria presidente".

Mesmo assim, há resistência a Doria dentro da legenda. Incomodou a uma ala tucana o fato de ele ter "contribuído" para a provável desfiliação de Geraldo Alckmin, que deve seguir para o PSD de Gilberto Kassab. O ex-governador de São Paulo gostaria de ser o nome do partido para ao Palácio dos Bandeirantes no ano que vem, mas Doria defende a candidatura do seu vice, Rodrigo Garcia.

Para Doria, "enfrentamentos dentro de um partido democrático como o PSDB fazem parte do jogo". "O PSDB não é um partido de dono, é um partido de muitos. Alguns concordam, outros não. É preciso ter paciência, discernimento, compreensão, perdão e avançar trabalhando. É o que tenho feito sempre dentro do PSDB", comentou.

Apostas
Outra frente do PSDB diz que Eduardo Leite é a aposta mais viável para 2022. A aceitação dele pela população é maior que a de Doria, e há a avaliação entre os tucanos de que isso pode contribuir para que o governador do Rio Grande do Sul consiga uma boa projeção nacional, mesmo sendo mais jovem do que o paulista.
Nas últimas semanas, cresceu uma onda dentro do partido para que Leite construa uma chapa com Tasso Jereissati, outro que é tido como uma opção para a eleição à Presidência. O governador confirmou que conversa com o senador cearense e disse que uma aliança entre os dois seria interessante.

"A gente tem muita afinidade, identidade, de pensarmos em um propósito maior, que é trazer o partido de volta à sensatez. A responsabilidade que a gente tem com o país é maior que qualquer interesse ou inspiração pessoal de candidatura. Continuamos conversando e espero que, até as inscrições das prévias, a gente tenha um entendimento", frisou o governador.

Leite não acredita que a diversidade de políticos tucanos que se apresentam como candidatos seja algo prejudicial. Além de Doria, Tasso e ele, outro concorrente é o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio. Segundo o governador, isso é sinal de força do partido — que tem diversos quadros para discutir um processo sucessório — e não de fraqueza.

Ele também acredita que, no momento em que a candidatura do PSDB estiver decidida, a legenda conseguirá mostrar à população que há um caminho alternativo a Lula e a Bolsonaro, o que deve evitar um segundo turno entre os dois. Leite tem "convicção" de que o petista e o atual presidente não chegarão juntos ao segundo turno.