Correio Braziliense, n. 21352, 31/08/2021. Política, p. 5

Motoboy obtém direito de não comparecer à CPI
Táina Andrade
31/08/2021



STF acata pedido da defesa de funcionário de firma de logística que sacou quase R$ 5 milhões. Depoimento aos senadores seria hoje

A defesa de Ivanildo Gonçalves, motoboy da VTC Log — empresa responsável por fazer a logística de insumos distribuídos pelo Ministério da Saúde —, conseguiu, no Supremo Tribunal Federal (STF), o direito de ele não comparecer, hoje, para depor na CPI da Covid. A decisão é do ministro Nunes Marques abre a possibilidade de que se ausente ou permaneça calado, caso aceite se submeter às indagações dos senadores.

Os advogados de Ivanildo alegam no pedido ao STF que a convocação era ilegal. "(Ele) Não exerce qualquer papel que possa colaborar com a investigação por apenas realizar serviços de deslocamento, inclusive diligências bancárias necessárias à administração da VTCLog. A drástica medida, além de totalmente infundada, (foi) realizada com fundamento midiático, já que nem mesmo os sócios ou a CEO da empresa VTCLog foram convidados a prestarem os devidos depoimentos, cujo objetivo pretende repercussão midiática, o que deve ser rechaçado", argumentou a defesa.

O motoboy foi convocado pela CPI porque teve o nome citado num relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). Ele teria retirado, na boca do caixa, quase R$ 5 milhões, o que representaria 5% da movimentação atípica feita pela VTClog, segundo investigações. De acordo com o documento, Ivanildo realizou "operações em que não seja possível identificar o destinatário final" dos montantes com só quais circulava. Os senadores queriam avaliar o "grau de confiança" que a empresa tinha nele para transportar altas quantias.

Advogada
Os senadores do chamado G7 — que reúne os de oposição e os independentes — querem convocar a advogada Karina Kufa, que defende o presidente Jair Bolsonar. Foi o que anunciou, ontem, o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), em entrevista à GloboNews. O nome dela surgiu no depoimento do ex-secretário da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), José Ricardo Santana, na última quinta-feira, por conta de um evento que ela promoveu em casa, em maio do ano passado. Nesse encontro, entre os convidados estava o lobista Marconny Albernaz e teria sido a partir desses episódios que os dois passaram a atuar em interesses da Precisa Medicamentos no Ministério da Saúde.

Por nota, Karina se defendeu. "Na semana passada, integrantes da CPI tentaram vincular meu nome de forma irresponsável às supostas irregularidades na compra de vacinas pelo Ministério da Saúde. (...) Sem elementos concretos para enquadrar o chefe do Executivo, partiram para o ataque sem reservas contra mim e contra outras pessoas próximas a ele (...) 1) Fazer churrasco não é crime; 2) Conhecer pessoas não é crime; 3) O anfitrião não está obrigatoriamente vinculado aos atos, anteriores ou posteriores, dos convidados".

A advogada acrescentou que, "no momento oportuno, buscarei reparação na Justiça contra todos aqueles que, de má-fé, propagam insinuações maliciosas e produzem fake news para manchar o meu nome".