Título: A redenção dos salários
Autor: Juan Velasquez
Fonte: Jornal do Brasil, 31/03/2005, Economia & Negócios, p. A21

Expansão da economia permitiu que dissídios compensassem inflação em 81% dos casos em 2004, aponta Dieese

O ano de 2004 registrou recorde nos resultados de campanha salarial. O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese) analisou 658 acordos salariais em 2004, incluindo os setores privado e estatal urbanos e concluiu que 81% dos acordos resultaram em percentual igual ou superior à variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Segundo o Dieese, foi o melhor resultado desde o início do acompanhamento, em 1996. Os três setores econômicos - indústria, serviços e comércio - estão contemplados na pesquisa. O INPC é o índice mais usado nas negociações e serve para corrigir o salário mínimo e benefícios previdenciários.

O levantamento do Dieese leva em consideração acordos salariais de categorias profissionais de todo o país - mais da metade (53%) está no setor industrial, na região Sudeste e tem data-base no primeiro semestre.

As informações analisadas demonstraram, segundo os técnicos da entidade, que houve recomposição salarial em todos os setores. Porém na indústria houve as melhores resultados. Neste setor, 87% das negociações salariais levaram a reajustes superiores ao INPC, enquanto que no comércio, 82% chegaram ou superaram esta variação de inflação, e no setor de serviços, 71% dos acordos repuseram a inflação ou deram ganho real ao trabalhador.

- O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), a redução do desemprego, as taxas de juros menores e o controle da inflação foram fatores determinantes para que se conseguisse chegar a esses resultados - analisa Clemente Ganz Lucio, diretor técnico do Dieese. - Em 2000 (até então considerado o melhor ano para as negociações salariais), quando a economia também registrou crescimento, 67% haviam conseguido reajustes iguais ou acima da inflação.

No setor industrial, metalúrgicos, químicos, trabalhadores dos setores de papel e celulose, de alimentação e de calçados foram os que conseguiram reajustes acima do INPC.

- As negociações mostram que, além dos setores voltados para a exportação, já houve reação em segmentos voltados para o mercado interno - diz José Silvestre de Oliveira, supervisor do Dieese.

Segundo o levantamento, 1% de negociações foi de âmbito nacional ou inter-regional. As regiões Sul e Sudeste respondem pela maioria das informações, 40% e 37%. O Nordeste participa com 13% do total de registros, enquanto o Centro-Oeste por 5% e o Norte, 4%. A maioria dos acordos foi formalizada em São Paulo (20%), seguido de Rio Grande do Sul (15%), Paraná (14%), Minas Gerais (12%) e Santa Catarina (11%).

Para 2005, os resultados devem ser mais tímidos do que os verificados no ano passado, de acordo com o Dieese.

- Os juros voltaram a subir em setembro de 2004 e há sinais de piora nas taxas de desemprego, o que pode prejudicar as negociações deste ano - avalia João Carlos Gonçalves, secretário-geral da Força Sindical.

Apesar dos resultados positivos de 2004, os técnicos ressaltam que o rendimento do trabalhador chegou ao mais baixo patamar dos últimos 20 anos.

- Os salários são baixos, e a rotatividade achata ainda mais o rendimento. Para recuperar o que se perdeu vai demorar anos - lamenta o diretor do Dieese.

Com Folhapress