Correio Braziliense, n.20741, 06/03/2020. Cidades. p.17

Caso de coronavírus aguarda contraprova 

Agatha Gonzaga 

Jéssica Eufrásio 

Walder Galvão


​Mulher de 52 anos estava internada em um hospital particular e, após primeiro exame, foi transferida para internação na rede pública, onde o tratamento seguirá protocolos e normas internacionais. Situação pode ser a primeira registrada na capital

A Secretaria de Saúde investiga o que pode ser o primeiro caso do novo coronavírus na capital federal. Uma mulher de 52 anos, que viajou recentemente à Inglaterra e à Suíça, apresentou sintomas da doença durante a viagem. Ela chegou a Brasília em 26 de fevereiro e, na quarta-feira, deu entrada no Hospital Daher, no Lago Sul, onde ficou internada na unidade de terapia intensiva (UTI). Por volta das 20h de ontem, a paciente foi transferida para o mesmo setor do Hospital Regional da Asa Norte (Hran).

Em nota, o Hospital Daher informou que ela seria transferida para uma das unidades de isolamento da Secretaria de Saúde: Hran e Hospital de Base. O motivo envolve o rigor no tratamento da virose — padronizado por protocolos e normas internacionais — que ocorre nas duas unidades. No entanto, o Correio apurou que familiares chegaram a recusar o encaminhamento dela para a rede pública, para interná-la no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.

Após o primeiro resultado, liberado por um laboratório particular do Distrito Federal, a equipe do Daher solicitou à Secretaria de Saúde a transferência da paciente. Eduardo Hage, infectologista da pasta, afirmou que o material coletado no primeiro exame será encaminhado ao Instituto Adolf Lutz (IAL), em São Paulo, hoje pela manhã, para teste de contraprova (leia Para saber mais). “São amostras clínicas. Na maioria das vezes, de secreção orofaringe”, detalhou.

Além da paciente, outras duas pessoas que tiveram contato direto com a mulher são monitoradas pela Secretaria de Saúde e seguem em isolamento domiciliar. Ela permanecerá na UTI do Hran até que apresente melhora do quadro clínico. “Fizemos contato com parentes, para identificar contatos próximos e pessoas com que esteve durante a viagem ou na chegada ao Brasil. Além da identificação dos contatos, tentamos identificar todos os voos que envolveram o roteiro de viagem”, completou Eduardo.

Durante o voo, não houve suspeita de passageiros contaminados; por isso, o avião que a transportou ao Brasil não passou pelo protocolo adotado nos aeroportos. A pasta da Saúde também está em contato com os governos dos demais locais por onde a paciente passou a fim de conseguir a lista completa de passageiros. Eles seriam da Suíça, do Reino Unido e do Brasil.

Insumos

Para contabilizar o caso, o Ministério da Saúde aguarda o resultado da contraprova, com previsão de ser divulgado até domingo. Em coletiva ontem, o secretário de Vigilância em Saúde da pasta, Wanderson Kleber de Oliveira, informou que, até agora, os oito casos confirmados no país — seis em São Paulo, um no Rio de Janeiro e outro no Espírito Santo — tiveram relação com viagens ao exterior ou contato próximo com pessoas infectadas pelo Covid-19.

Questionado sobre a internação da paciente em um hospital que não conta com área de isolamento para contaminados pelo vírus, Wanderson afirmou que a decisão parte sempre da equipe médica. De acordo com o secretário, se comprovado, o caso de Brasília é o primeiro do país sem relação com viagem à Itália. “Enquanto não tivermos a informação correta, não vamos dizer que o caso é confirmado, mesmo com o resultado positivo do primeiro laboratório”, ressaltou.

No DF, a Secretaria de Saúde reforçou os estoques de insumos na rede hospitalar. O chefe da pasta, Osnei Okumoto, detalhou que o Executivo local comprou 2 mil óculos de proteção, 10 mil máscaras do tipo N95, 20 mil capotes (vestimenta) e 100 mil máscaras cirúrgicas. “O ministro (da Saúde) fez um pronunciamento dizendo que estão adquirindo insumos necessários para o atendimento. Hospitais pelo país que tiverem necessidade receberão esses itens”, disse Osnei.

Equipes da pasta, do Aeroporto de Brasília e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) se reuniram para combinar como adotar o protocolo internacional. O secretário adjunto de Saúde, Ricardo Tavares, destacou que, caso algum passageiro apresente sintomas da doença na viagem, será encaminhado para atendimento assim que desembarcar. “É preciso deixar claro para alertar a população. Não é porque a pessoa vem de um voo internacional que todo mundo precisa passar por um médico; senão, criamos uma espécie de barreira sanitária. Nenhum país está fazendo isso”, destacou.

Como se manifesta

Confira as reações do coronavírus no corpo humano

Sintomas mais comuns

» Febre

» Cansaço

» Tosse seca

Outros sintomas

» Dores

» Congestão nasal

» Coriza

» Dor de garganta

» Diarreia

» Em geral, 80% dos pacientes costumam se recuperar sem precisar de tratamentos especiais, mas uma em cada seis pessoas infectadas pelo vírus apresenta sintomas mais sérios, que incluem dificuldade de respirar. Idosos ou diagnosticados com doenças crônicas correm mais risco de lidar com um quadro agudo da doença. Em caso de febre, tosse e dificuldade para respirar, é necessário buscar atendimento médico.