Correio Braziliense, n. 21354, 02/09/2021. Política, p. 2
Mais de R$400 mil em um único saque
Tainá Andrade
02/09/2021
Motoboy confirmou à CPI várias retiradas em dinheiro vivo e lembra-se especialmente de uma, por ter sido a maior. Assegurou que jamais repassou pacotes de notas a ninguém, apenas pagava boletos. E reconheceu que ia com frequência ao Ministério da Saúde
Em depoimento, ontem, à CPI da Covid, Ivanildo Gonçalves, motoboy da VTC Log – empresa que prestava serviço de logística de distribuição de insumos para o Ministério da Saúde —, confirmou que fez várias retiradas em dinheiro vivo. Segundo ele, o maior valor individual foi acima de R$ 400 mil, na agência da Caixa Econômica Federal, no aeroporto de Brasília. Além disso, ele reconheceu que esteve "constantemente" no Ministério da Saúde.
Ivanildo assegurou que o dinheiro era usado para pagar boletos dentro do próprio banco, em contas cujos destinatários disse não se lembrar. Explicou, ainda, que quando sobravam cédulas após os pagamentos, as devolvia à VTC Log.
De acordo com o motoboy, a ordem dos saques e pagamentos vinha de Zenaide Sá Reis, responsável pelo setor financeiro da empresa — cujo nome foi acrescentado à lista de próximas convocações pelos senadores. Ivanildo é funcionário da VTCLog desde 2009. "O financeiro da empresa passava os cheques para mim (sic) fazer os saques e, aí, eu executava. Era na boca do caixa", explicou, acrescentando que, ultimamente, o volume de movimentações diminuíra.
Apesar de ir várias vezes ao Ministério da Saúde, ele foi enfático ao dizer que "não conhecia ninguém, ia de sala em sala, de setores em setores entregar faturas da empresa". Ivanildo se recordou de, em uma dessas idas à pasta, ter levado um pendrive da VTCLog para uma mulher, no quarto andar do prédio — o mesmo no qual ficava o Departamento de Logística (Delog), chefiado à época por Roberto Ferreira Dias.
Sem olhar nomes
"Não cheguei a entregar dinheiro para ninguém. A única coisa que eu executava no papel era de pagar boletos. Às vezes depositava quando me pediam: 'olha, deposita esse dinheiro'. Mas eu não cheguei ainda, assim, a entregar dinheiro para ninguém", afirmou, sem também se recordar de nomes que constassem nas faturas — lembrou-se apenas que os dos sócios da VTCLog estavam em algumas e de também uma empresa de fornecedora de combustível. "A princípio, eu não chegava a olhar o nome de ninguém", garantiu.