Correio Braziliense, n. 21355, 03/09/2021. Política, p. 4

Senadores emparedam ex-secretário do DF
03/09/2021



Em depoimento à CPI da Covid, o ex-secretário de Saúde do Distrito Federal Francisco Araújo Filho negou conhecer o dono da Precisa Medicamentos, Francisco Maximiano, ou qualquer representante da empresa. Ele também se defendeu das acusações de compras com sobrepreço de testes contra o novo coronavírus durante sua atuação na secretaria de saúde do DF. Mas isso não convenceu os senadores Leila Barros (Cidadania-DF), Izalci Lucas (PSDB-DF) e Reguffe (Podemos-DF), que perceberam várias inconsistências nas respostas que receberam.

Araújo foi preso em agosto de 2020 durante a Operação Falso Negativo, da Polícia Federal. A investigação abarcou ilicitudes na aquisição de testes rápidos para detecção da covid-19 para a rede pública de saúde. A compra teria o envolvimento da Precisa. "Não conheço os donos. Nunca tive relação ou contato com pessoas, donos ou empresários da empresa", garantiu. Na época, a transação foi fechada com a Global Medicamentos, hoje a Precisa.

O ex-secretário contestou a avaliação do Tribunal de Contas da União (TCU) de que houve sobrepreço na obtenção de testes da marca Livzon, que a Precisa vendeu pelo preço unitário de R$ 139,90 — o GDF obteve 150 mil testes. De acordo com Izalci, a Produtos Médicos Hospitalares Ltda. ofereceu uma proposta de vender cada teste a R$ 73, mas, mesmo assim, foi desqualificada. Segundo Araújo, isso se deu porque a empresa não tinha condições de entregar a quantidade requerida pela secretaria no prazo estipulado, em função do avanço da pandemia no DF. Izalci, porém, rebateu e apontou para a baixa qualidade do material da Livzon, que apresentou aproximadamente 13% de falsos resultados negativos.

Com relação às acusações de superfaturamento de compras dos testes pelo valor de R$ 180, oferecido pela loja da Luna Park Brinquedos — o valor máximo observado até então era de R$ 110 —, Araújo disse que o preço do insumo disparou devido à indisponibilidade do produto nas outras empresas participantes do processo.

Reguffe apresentou informações de uma auditoria do TCU que aponta indícios de irregularidades na escolha da empresa de brinquedos para aquisição de testes. Araújo se defendeu afirmando que apesar de a razão social da empresa se referia a brinquedos também, tinha capacidade de vender testes. Indagado novamente se o ex-secretário via algo "errado" na secretaria, Araújo justificou que "no primeiro momento, da primeira onda (de covid-19), todos nós desconhecíamos totalmente aquele cenário e muitos insumos ficaram muito mais caros. Se houve algum erro, foi buscando o meu melhor".