Correio Braziliense, n. 21359, 07/09/2021. Política, p. 2

Em Brasília, hotéis lotados e atos messiânicos
Raphael Felice
07/09/2021



Na véspera dos atos do Dia da Independência, apoiadores de Jair Bolsonaro já movimentavam a cidade. Dezenas de vendedores ambulantes vendiam produtos de cores verde e amarela estampados com o rosto do presidente e preenchiam parte do caminho entre o Eixo Monumental e a Esplanada dos Ministérios e nos pontos de concentração. Carros e motos enfeitados com bandeiras do Brasil também eram vistos a todo momento. Manifestantes ostentavam camisetas e faixas com suas reivindicações, entre elas, a destituição de ministros do STF, voto impresso e até mesmo intervenção militar com Bolsonaro no poder.

Os principais pontos de concentração foram na Praça do Leão, localizada no Recanto das Emas e no Centro de Tradições Gaúchas Jayme Caetano Braun (CTG), no Setor de Clubes Sul. Motocicletas, caminhões, carros e até trailers estavam estacionados nos dois locais. A reportagem do Correio tentou conversar com manifestantes no CTG, mas a entrada não foi permitida pelos organizadores.

Além da grande quantidade de pessoas nos acampamentos, outro termômetro da adesão dos bolsonaristas ao ato foi confirmada pela alta procura por hotéis em Brasília. De acordo com a Associação Brasileira de Indústria de Hotéis do Distrito Federal (ABIH-DF), os hotéis do centro da capital operaram com quase 100% da capacidade até segunda-feira (6), e até o fim do dia de hoje, 80% da rede hoteleira estará ocupada. Um sinal de que muitos hóspedes vão voltar para suas cidades após o ato.

“Demônios do STF”

Na Esplanada dos Ministérios, muitos dos presentes preferiram se antecipar e foram demonstrar apoio, de véspera, a Jair Bolsonaro e também manifestar as queixas contra o Supremo Tribunal Federal (STF). No início da tarde de ontem, um pequeno grupo de apoiadores de Bolsonaro se aglomerava próximo ao esquema de segurança montado pela Secretaria de Segurança do Distrito Federal.

Entre os presentes na pré-manifestação se destacavam evangélicos e pessoas que autodenominam conservadores. A maioria se concentrou em frente ao Palácio do Planalto para chamar a atenção de Bolsonaro, como Adenir Pereira Afonso, de 67 anos. O agricultor que segurava uma faixa com críticas ao ministro do STF, Edson Fachin, e ao Presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), manifestou seu apoio ao chefe do Planalto.

“Eu, que sou evangélico e observo o destino do país desde que votei a primeira vez, vejo em Bolsonaro um homem que Deus levantou para governar esse país e expulsar esses demônios do Congresso e do STF. Nós temos um Supremo Tribunal Federal acovardado a serviço da esquerda, querendo destruir o presidente Bolsonaro. Bolsonaro é um homem que teme a Deus, que tem compromisso com o povo brasileiro, basta ouvir ele falar”, disse o homem, proveniente de Manaus. “É um presidente que a gente tem que defender e, se possível, ir até a morte com o Bolsonaro para defendê-lo”, concluiu.

Nos protestos de cunho religioso ou político, os manifestantes alegavam que a crise na economia — com inflação alta, dólar desfavorável e desemprego devastador — é de responsabilidade de terceiros, não do presidente Bolsonaro. Para os bolsonaristas, o presidente está cercado de inimigos. “O brasileiro está cansado da corrupção. A gente conseguiu um presidente melhor, mas os corruptos atrapalham o Bolsonaro. O povo precisa ir para a rua ajudar, porque sozinho, ele (Bolsonaro) não vai conseguir governar”, disse Edson Nunes, empresário de 51 anos que veio de Indiara (GO), a cerca de 350 km de Brasília.