Título: Mães do DF contra a venda de armas
Autor: Melissa Medeiros
Fonte: Jornal do Brasil, 31/03/2005, Brasília, p. D8

Vestidas com camisetas estampando fotos de seus filhos, mães de jovens vítimas da violência no DF foram, ontem, à Câmara dos Deputados, defenderem a aprovação do referendo popular sobre venda de arma de fogo e munição, em outubro deste ano. Durante as discussões na Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado, do Projeto de Decreto Legislativo 1274/04, elas aplaudiam, vaiavam e gritavam pedindo a aprovação em caráter de urgência.

Maria Regina Vieira da Silva teve o filho, Juliano Vieira da Silva, 16 anos, assassinado em maio de 2000, no Gama, por dois adolescentes. Para ela, o desarmamento é um importante meio de diminuir crimes como o que aconteceu com seu filho.

- Se os adolescentes não tivessem acesso tão fácil às armas, Juliano poderia está vivo. Por isso, é fundamental fazer rapidamente o referendo, que mostrará a indignação da população diante dessas barbaridades - afirma Maria Regina.

Pedindo copiosamente a votação do referendo, Euristéia de Azevedo, que também teve seu filho de 24 anos assassinado, tentava provar com dados estatísticos a importância da proibição do comércio de armas.

- A cada 12 minutos um brasileiro morre vítima de arma de fogo. Só em 2002, foram cerca de 40 mil mortos - afirmou Euristéia.

O Estatuto do Desarmamento, em vigor há um ano, prevê a realização do plebiscito em outubro deste ano. Mas foram apresentados projetos que alteram a data da consulta popular no primeiro domingo do mês de outubro deste ano. Para cumprir o que determina o estatuto, o TSE exigiu que seja aprovada uma lei até o próximo mês definindo uma data. Mas os deputados Cabo Júlio (PMDB-MG) e Pompeo de Mattos (PDT-RS), contrários à realização do plebiscito este ano, apresentaram requerimento a fim de adiar para por cinco sessões, a votação do projeto que fixa o dia 4 de outubro como data para a consulta popular. Essa prorrogação impossibilitaria a realização do referendo em 2005.

- Fazer o referendo esse ano custa R$ 500 milhões. Para não termos esse gasto, o correto é deixar essa consulta para 2006, juntamente com as eleições - justifica Pompeo de Mattos.

Para evitar que o deputado Pompeo atingisse seu objetivo, o deputado Raul Jungmann (PPS-PE) pediu verificação de quorum e como não havia número mínimo de deputados a votação foi adiada para a próxima sessão da Comissão.

- O referendo ter que ser feito esse ano. As despesas com a consulta serão, com certeza, compensadas com a diminuição da violência - afirmou Jungmann.

A presidente do Comitê Nacional de Vítimas da Violência (Convive), Valéria Velasco, criticou o adiamento. Segundo ela, protelar a data do referendo é deixar o Brasil mais vulnerável ao crime. Ela considera a proibição radical do comércio de armas o primeiro passo para tentar diminui a violência.

- É necessário que se faça o referendo ainda este ano porque, quanto mais rápido proibir o comércio de armas, menos pessoas serão mortas - diz Valéria Velasco.

Desde agosto do ano passado, a Campanha do Desarmamento no DF recolheu 5.615 armas, ficando em 11º no ranking nacional. Esses dados da Polícia Federal, revelam também que essa posição sobe para segundo lugar quando avaliada a quantidade de armas arrecadadas proporcional ao número de habitantes.