Correio Braziliense, n. 20595, 12/10/2019. Política, p. 4

Risco de se esfarinhar

Jorge Vasconcellos
Luiz Calcagno
Bernardo Bittar


O confronto entre o presidente Jair Bolsonaro e o PSL tende a enfraquecer ainda mais a base do governo no Congresso, constituída, quase exclusivamente, pela sigla. É a avaliação de especialistas ouvidos pelo Correio e que têm acompanhado o movimento do presidente, e de seus seguidores mais fieis e o partido. A tendência, caso o divórcio se confirme, é o fortalecimento do Centrão, que tem o DEM como partido locomotiva e que, por ora, se alinha ao Palácio do Planalto nas pautas econômicas.

Advogado e especialista em direito eleitoral, André Mattos explica que vai ser difícil o presidente levar os parlamentares bolsonaristas com ele. “A meu ver, não tem outra possibilidade a não ser que eles fiquem. Ou perderão o mandato. Serão julgados como infiéis. Admar Gonzaga, ex-ministro do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), tem dito que o fato de o partido estar envolvido em alguns escândalos seria um motivo (para a saída). Eu não vejo dessa forma. Não está dentro da hipótese de justa-causa. Não acredito que vá dar certo. Vão pagar para ver?”

Para o cientista político e professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro, Ricardo Ismael, é cedo para afirmar que Bolsonaro deixará a legenda. Até porque, o presidente recuou várias vezes naquilo que disse.

Ismael destacou, ainda, que a base de Bolsonaro é fraca no Congresso. Deixar o PSL, que é a segunda maior bancada, seria pior para a  governabilidade e, consequentemente, um risco para as eleições de 2022. A alternativa, uma migração com vários outros parlamentares, seria mais vantajosa. Mas, ainda assim, enfraqueceria uma base que já é pequena.

“O presidente só será competitivo se fizer um governo de razoável para bom. Mas, para isso, ele vai precisar de apoio. Ele é um presidente que veta, o Congresso derruba o veto, que não impõe agenda. A falta de apoio poderia segurá-lo no PSL. Mas 2022 está muito longe. O problema é agora”.

Base é o que conta

Para o professor de Ciência Política Felippo Madeira, da Universidade Estadual de Goiás (UEG), a presença de Bolsonaro no PSL se torna indiferente caso o Planalto continue optando pela falta de coalizão para governar.

"Não faz diferença o presidente estar num partido grande ou pequeno se continuar sem base no Congresso Nacional. Essa mudança pode dificultar a vida do PSL, que, sem o presidente, perde força. E aí o Centrão vem com tudo, especialmente pela pauta híbrida, conveniente com o assunto do momento".

Uma possível saída de Bolsonaro do PSL reforçria o DEM, que pode ainda ganhar o bônus de ser a nova casa da deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), que ensaia candidatura à Prefeitura de São Paulo.

"Golpeariam o PSL fortemente. A legenda terá que encontrar formas de se fortalecer antes que acabe voltando à míngua. Vale lembrar que, nas eleições 2014, o partido elegeu apenas duas pessoas. Cresceu, mas ainda não se comporta como grande".