Título: Aliança suprapartidária
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 05/04/2005, Opinião / Editorial, p. A8

Merece enfáticos elogios a cooperação mútua entre as autoridades federais e estaduais na resposta à brutal violência ocorrida na Baixada Fluminense, na semana passada. A disposição ao diálogo e à parceria - sem que as ações sejam enlameadas por interesses políticos menores - constitui o ponto de partida para o êxito. Os dividendos serão sentidos em breve. É o mínimo que desejam os cidadãos de bem, estarrecidos pela barbárie na qual 30 pessoas, entre crianças, homens e mulheres, foram covardemente executadas por facínoras armados em dois carros. Há evidências de que o massacre resultou de uma horrenda represália de policiais inconformados com mudanças no comando da corporação naquela região - decorrentes de punições aplicadas a bandidos fardados.

Caso a hipótese se comprove, reafirma-se a necessidade de uma faxina ainda mais contundente numa instituição marcada por sujeiras crônicas. Por essa razão, também é boa a notícia de criação de uma força-tarefa da Polícia Federal e da Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro para combater grupos de extermínio que atuariam na Baixada.

Como alento à tragédia da semana passada, acrescentem-se duas outras notícias: primeiro, a detenção de 11 policiais militares suspeitos de terem participado do massacre. Embora esteja ligada apenas indiretamente à chacina, ressalte-se ainda a decisão do governo federal de antecipar o envio da Força Nacional de Segurança Pública para o Rio. Entre 400 e 600 policiais chegarão ao estado nos próximos dias, a fim de atuar no combate ao tráfico de drogas e ao contrabando de armas.

Conforme defendeu o secretário Marcelo Itagiba, no JB de domingo, a luta contra o crime pede uma espécie de ''pacto federativo da Segurança'' em prol do povo brasileiro. Trata-se de uma tarefa que exige uma aliança política de alto nível, fundamentada em exigências superiores às colorações partidárias. É o que importa. Mais ainda quando a violência tem raízes fincadas nas próprias instituições cuja missão é proteger a população.

A conjugação de esforços requer um trabalho permanente dos governos em todos os níveis, em ações não só repressivas, mas também preventivas e voltadas para melhoria das polícias. Some-se ao imprescindível planejamento de longo prazo, sem o qual a sociedade continuará derrotada pela barbárie.