Título: Despedida
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Fonte: Jornal do Brasil, 05/04/2005, Internacional, p. A10

De 2 a 4 milhões de pessoas são esperadas em Roma para os 3 dias de exéquias

CIDADE DO VATICANO - Levado numa padiola de madeira, forrada em seda vermelha (a cor de luto pelos papas), e carregado nos ombros por 12 ajudantes, o corpo de João Paulo II foi depositado ontem diante do altar principal da basílica de São Pedro, em uma cerimônia na qual foi pedida a paz mundial. O corpo foi levado do Palácio Apostólico ao templo, onde fica exposto ao público até sexta-feira, dia do enterro. Centenas de cardeais, bispos e sacerdotes precediam a padiola, que era escoltada por oito alabardeiros da Guarda Suíça. Dez freis, com velas acesas, acompanharam o cortejo fúnebre. O papa foi deixado a poucos metros de onde está o túmulo do Apóstolo Pedro.

O camerlengo (cardeal que governa interinamente a Igreja, entre a morte de um papa e a eleição de outro), o espanhol Eduardo Martínez Somalo, presidiu o ritual.

Vestido de vermelho, Somalo benzeu com água benta três vezes o corpo do Pontífice e depois o incensou várias vezes.

Depois de serem recitados salmos em latim, idioma no qual a cerimônia foi oficiada, o camerlengo suplicou a Deus que acolhesse a alma de João Paulo II.

Também foi pedido ¿pelos povos de todas as nações, para que no respeito da justiça, formem uma só família na paz e estejam unidos por sentimento fraternais¿.

Além disso, o camerlengo rezou pela Igreja e pela renovação da família humana. O pai-nosso, entoado em latim, encerrou a cerimônia.

Os mais de 60 cardeais presentes, entre eles Joseph Ratzinger, Angelo Sodano, Camillo Ruini, Alfonso López Trujillo e Giovanni Battista Re, as centenas de bispos e as várias centenas de sacerdotes abandonaram o templo depois de prestar homenagem ao papa.

Às 19h45, a câmara foi aberta às dezenas de milhares de fiéis que desde começo da manhã formavam longas filas para passar por diante do 264º sucessor de Pedro, cujo papado foi, até o momento, o terceiro mais longo da história.

A câmara permanecerá aberta durante três dias. Só será fechada em alguns momentos para permitir a limpeza do templo. o Vaticano promete visitas durante 21 horas por dia.

De dois a quatro milhões de pessoas são esperadas em Roma para dar um último adeus a João Paulo II. Para orientar os católicos nos três dias de exéquias, foram instaladas barreiras metálicas e de madeira na praça São Pedro, em volta do obelisco, e cerca de 10 mil policiais dão instruções para a entrada na basílica, pela porta central. Todos atravessam o átrio até o altar e, ao chegar em frente ao corpo, a fila escoa para a direita e a esquerda. Só é permitido contemplar João Paulo II por alguns segundos.

¿ Estivemos na fila durante mais de seis horas, mas valeu a pena ¿ disse um jovem casal italiano ao sair da basílica, sem ocultar a emoção por um momento que ¿durará por toda a vida¿.

¿ É indescritível a sensação de vê-lo a poucos metros. Eu gostaria de ficar aqui (na Praça de São Pedro) esta noite porque quero entrar outra vez ¿ disse um austríaco que viajou a Roma para acompanhar as cerimônias.

A multidão que formava a longa fila, na qual havia muitos jovens e várias crianças, guardava um solene silêncio ao se aproximar das portas da basílica, rompido em algumas ocasiões por cânticos de alguns grupos de religiosos.

Em uma mesa colocada às portas da basílica, muitos fiéis depositavam flores ou mensagens de despedida.

O funeral de João Paulo II será realizado na sexta-feira com a presença de mais de 100 chefes de Estado, como os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e dos Estado Unidos, George Bush.