Título: Regras são alteradas
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Fonte: Jornal do Brasil, 05/04/2005, Internacional, p. A13

Ao se reunir ontem, pela primeira vez desde a morte de João Paulo II, o Colégio de Cardeais divulgou alterações nas regras para a escolha do sucessor, com o objetivo de dar mais conforto aos candidatos que são, ao mesmo tempo, eleitores do sumo pontífice.

De acordo com a Constituição Apostólica, assinada em 22 de fevereiro de 1996 por João Paulo II, os 117 cardeais que elegem o 263º papa da Igreja não precisam mais passar dias confinados na capela Sistina, dormindo em poltronas, cadeiras e mesmo no chão. Desta vez os prelados com menos de 80 anos terão aposentos dentro do Palácio Apostólico e irão à capela Sistina apenas para discussões e para a votação em si.

Apesar do avanço, não há qualquer alteração na questão do segredo das decisões. Permanece proibido qualquer tipo de comunicação a partir da sala. Os prelados não podem levar celulares ou computadores para a capela - protegida pela guarda suíça. Todos os presentes ao conclave, de cardeais a funcionários da limpeza, terão de prestar juramento de que guardarão segredo sobre as deliberações.

A previsão é de que o processo eleitoral dure no máximo 20 dias. No entanto, não divulgou-se ainda em que data começa o conclave, mas geralmente é entre o 15º e o 20º dias após a morte do pontífice.

Depois do consistório de ontem, o porta-voz do Vaticano, Joaquín Navarro-Valls, anunciou que em seu testamento, Karol Wojtyla não deixou registrada qualquer preferência de local de enterro. Dessa maneira, será seguida a tradição e o papa será sepultado na cripta da basílica de São Pedro. O sepultamento foi marcado para a manhã de sexta-feira, dia 8, depois da missa das 10h. Toda a cerimônia funeral será oficiada pelo cardeal alemão Joseph Ratzinger, chefe da Congregação pela Doutrina da Fé e dignitário do Colégio de Cardeais, além de ter sido um dos mais próximos colaboradores de João Paulo II.

É possível que o corpo embalsamado de Wojtyla seja sepultado na tumba onde o papa João XXIII ficou, antes de ser levado para o principal andar da basílica.

João Paulo II também não revelou antes de morrer ou deixou qualquer documento sobre a identidade do último cardeal in pectore que havia escolhido em 2003 e que nunca saberá de sua nomeação. A fórmula permite aos papas honrar prelados cuja nomeação poderia representar riscos para eles ou para as relações do Vaticano com um Estado.

João Paulo II nomeou 31 cardeais no último consistório, em outubro de 2003, e anunciou então que guardava ''em seu coração'' a identidade de outro.

Três nomes foram mencionados: o arcebispo de Moscou Tadeusz Kondrusiewicz, muito criticado pelo patriarcado ortodoxo local, o arcebispo de Hong Kong Joseph Zen Ze-Kiun, cuja nomeação poderia provocar um conflito diplomático com as autoridades chinesas, e o arcebispo polonês Stanislaw Dziwisz, secretário particular de João Paulo II.