Título: Sucessão
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Fonte: Jornal do Brasil, 05/04/2005, Internacional, p. A13

Cardeais se encaminham para Roma e traçam o perfil do novo pontífice

CIDADE DO VATICANO - Os cardeais que se direcionam a Roma para participar do conclave que elegerá o sucessor de Karol Wojtyla vão moldando, com suas declarações, como vêem o espírito do próximo papado. Quando a cerimônia de votação for convocada, os cardeais estarão estritamente proibidos de manter contato com o exterior, mas alguns já deram pistas sobre o perfil que acreditam que o novo papa deverá ter.

Para o cardeal brasileiro Claudio Hummes, que adiou para hoje a viagem a Roma devido a uma forte gripe, o próximo papa deverá ser ¿capaz de representar o mundo inteiro e influenciar tanto os não fiéis, como aqueles que professam crenças diferentes¿. Hummes é tido como um dos candidatos latino-americanos favoritos.

O arcebispo de São Paulo destaca três características essenciais do pontificado de João Paulo II: o ¿diálogo ecumênico, a evangelização e a luta contra a crescente pobreza¿.

Nesta linha, considera fundamental que o pontífice seja alguém ¿que saiba demonstrar que a Igreja e ele estão a serviço da humanidade, sobretudo a serviço dos mais pobres e marginalizados¿. Também deve responder ao progresso e ¿saber levar adiante o diálogo com a ciência, as religiões, a sociedade, a biotecnologia e a bioética¿, ou seja, em todos aqueles setores ¿que estão evoluindo com rapidez, sobre os quais é necessário debater¿.

Além de Hummes, outros três cardeais brasileiros têm direito a voto. Dom José Freire Falcão, arcebispo emérito de Brasília, que já está no Vaticano; Dom Geraldo Majella, arcebispo de Salvador e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, que viajou ontem, e Dom Eusébio Oscar Scheid, arcebispo do Rio, que também já embarcou.

Também considerado um dos favoritos, o hondurenho Oscar Andrés Rodríguez Maradiaga opina que o eleito deverá saber enfrentar ¿os problemas da globalização, entre eles os perigos que a biogenética traz¿.

Neste sentido, alguns, como o cardeal nicaragüense Miguel Obando Bravo, se mostram certos de que os passos de João Paulo II serão seguidos.

No entanto, para o arcebispo de Berlim, o cardeal Georg Sterzinsky, o novo líder deverá ter personalidade forte, sem se limitar a copiar seu predecessor. Segundo Sterzinsky, é importante que se demonstre perfil e convicções próprias, saiba enfrentar as necessidades da Igreja e fazer eventuais reformas no momento apropriado.