Título: Quando a libido vem do tato
Autor: Claudia Bojunga
Fonte: Jornal do Brasil, 05/04/2005, Saúde & Ciência, p. A14

Estudo realizado com 40 homens revela como funciona a sexualidade entre deficientes visuais

A beleza e a forma física são, de modo geral, os principais componentes que atraem o sexo oposto. Mas esses fatores são secundários ou até sem importância para grande parte das pessoas cegas, que precisam do tato para sentir desejo sexual. É o que revela um estudo do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Neuropsicologia Cognitiva da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf). Vinte e seis dos 30 cegos da pesquisa precisam do tato para se excitar.

O trabalho, a partir de um questionário dado a 40 homens, analisou o grau de importância do tato, da visão, do olfato e da audição para o despertar da libido.

Segundo o pesquisador Patrick Wagner de Azevedo - que também é cego -, um dado surpreendente é que dois grupos de deficientes visuais pesquisados revelaram usar mais a visão para se excitar do que o tato. Isto é, compõem imagens na mente e a partir delas determinam o interesse por alguma mulher.

''Busco minha memória visual do passado para ilustrar meus relacionamentos. Procuro projetar como se fosse um filme para ilustrar o que está acontecendo'', relatou um participante. '' Enxerguei até os 17 anos, então, sei como é uma mulher bonita. Hoje, projeto o que já vi e a partir daí fico excitado'', contou outro.

Ambos se tornaram cegos na adolescência.

- Como a identidade individual se forma nessa época, é neste momento que se define a preponderância sensorial em relação ao desejo sexual. Quando a pessoa fica cega nesse período ocorre uma ruptura - analisa. - Por isso, muitas vezes surgem dificuldades para definir quais as informações relevantes para se ter desejo, se são táteis ou visuais.

Azevedo diz que isso faz com que sigam o padrão social, que é visual, o que gera ansiedade.

Os entrevistados foram divididos em quatro grupos de 10, com faixa etária entre 20 e 40 anos: cegos de nascença, os que apresentaram a deficiência na adolescência, os que apresentaram a deficiência adultos e pessoas que têm visão.

Para descobrir o sentido preponderante para cada entrevistado, analisou-se as respostas para perguntas como: ''O que mais te excita?'' e ''A sua imaginação é suficiente para despertar o seu desejo sexual?''.

- Quando a pessoa respondia que um bumbum redondo e arrebitado era o que mais a excitava, concluía-se que era predominantemente visual, e quando falava que o importante era ser gostoso de pegar, determinava que era tátil - explica Azevedo.

Outra conclusão é a de que os relacionamentos que precisam do tato para ter libido duram mais tempo. Já que só assim têm a oportunidade de reconhecimento das informações sensoriais necessárias para um desejo pleno.

Rogério Roberto da Silva, massoterapeuta de 33 anos que se tornou deficiente visual num acidente de carro quando tinha 20 anos, confirma a pesquisa.

- Preciso de tempo para me relacionar com uma mulher, tenho que tocar. Antes de ficar cego era diferente.