Correio Braziliense, n. 20594, 11/10/2019. Política, p. 4

​PSL fora das comissões

Jorge Vasconcellos 
Ingrid Soares


No mesmo dia em que o presidente Jair Bolsonaro voltou a negar a  existência de conflitos com a cúpula do PSL e que tenha a intenção de deixar o partido, o líder do PSL na Câmara, deputado Delegado Waldir (GO), disse ao Correio que formalizou, ontem, o desligamento de parlamentares da legenda de comissões da casa. A decisão atinge deputados que divulgaram, na quarta-feira, uma nota conjunta de apoio a Bolsonaro. Os afastados são Filipe Barros (PR), Carlos Jordy (RJ), Bia Kicis (DF), Carla Zambelli (SP), Bibo Nunes (RS) e Alê Silva (MG).

“Eu afastei de comissões todos os deputados que atacaram o PSL e o seu presidente, deputado Luciano Bivar”, disse Delegado Waldir, que voltou a reagir às críticas feitas por Bolsonaro contra o partido. Na terça-feira, Bolsonaro disse a um apoiador para esquecer o PSL e que Bivar “está queimado para caramba”, em razão do envolvimento da legenda com candidaturas laranjas em Minas Gerais e Pernambuco.

“O presidente fica olhando para o quintal dos outros, quando, antes, deveria olhar para o dele”, disse Delegado Waldir, em referência a suspeitas de envolvimento de filhos políticos de Bolsonaro com contratações fantasmas em seus gabinetes e outras irregularidades. Ele explicou que não afastou os deputados de todas as comissões porque, segundo o regimento da Câmara, eles têm que integrar pelo menos um desses colegiados.

Surpresa — Alguns deputados não tinham conhecimento da decisão tomada pelo líder do partido. “Eu acabei de pedir para minha equipe ver se isso já foi colocado em prática. Eu não posso falar sobre algo que eu não sei se aconteceu ainda”, disse a deputada Carla Zambelli, ao ser procurada pelo Correio. Minutos depois, ela enviou, por WhatsApp, o print de uma página do site da Câmara que mostra seu nome como integrante de 12 comissões. “Ainda estou em todas”, escreveu a parlamentar.

Também o deputado Carlos Jordy não tinha conhecimento do seu afastamento de algumas comissões e disse que soube do afastamento apenas do colega Filipe Barros. “Lamento muito isso, porque o deputado Filipe é um dos que mais atuam na defesa do governo na Câmara”, disse Jordy.

Bolsonaro participou ontem do Fórum de Investimentos Brasil 2019, em São Paulo, onde, questionado, negou o desejo de deixar o PSL. “Eu já sou casado e você quer arrumar outra mulher para mim?”, disse o presidente.

Apesar das declarações, Bolsonaro tem namorado o partido Patriota, antigo Partido Ecológico Nacional (PEN), que chegou a mudar o estatuto para recebê-lo no período eleitoral, mas acabou sendo preterido pelo candidato. Ontem, o Patriota fez um novo convite para o presidente se juntar à legenda.

Caso saia do PSL, Bolsonaro pode enfrentar mais dificuldades na relação com o Congresso, além de perder o direito de compartilhar dos montantes dos fundos Partidário e Eleitoral destinados ao partido pelo qual se elegeu presidente. Segundo interlocutores, o objetivo do chefe do governo é ser ‘dono’ de um partido, onde ele possa mandar, o que ele não consegue fazer no PSL.

O presidente do PSL, deputado Luciano Bivar (PE), disse, em entrevista ao jornal O Globo, que Bolsonaro está sendo “mal aconselhado” e que advogados querem comandar recursos do Fundo Partidário para fazer “coisas não éticas”.