Título: Mudanças à vista em leilão de energia
Autor: Ricardo R. M, Sabrina Lorenzi e Fernando Exman
Fonte: Jornal do Brasil, 05/04/2005, Economia & Negócios, p. A21

O fracasso do leilão de ''energia velha'' - gerada a partir de empreendimentos já existentes - no último fim de semana colocou o governo diante de um dilema. Na avaliação de alguns dos principais analistas do setor, o Ministério de Minas e Energia terá não só quer promover pelo menos dois novos pregões para conseguir contratos para a energia hoje disponível no mercado, como também elevar o valor inicial nos próximos leilões. A tendência, pelo menos para parte dos analistas, é que os preços da energia pagos pelo consumidor fiquem cada vez mais altos, a partir de 2006, a despeito do discurso oficial em favor da modicidade tarifária, o conceito que dá prioridade às tarifas mais baixas.

Às 5 horas da manhã do último domingo, o governo concluiu o segundo leilão de energia já existente, após uma disputa que durou quase 19 horas. Foram comercializados 1,345 mil megawatts (MW), no total, que demandaram R$ 7,7 bilhões em contratos firmados entre 34 compradoras e dez geradoras. Os contratos, com prazo de oito anos, foram fechados a uma média de R$ 83,13 por megawatt/hora (MWh), valor que servirá de referência para a composição das tarifas cobradas ao consumidor.

Apesar de a ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, ter considerado a disputa um sucesso, a maior parte dos executivos do setor não compartilha de tal tese. Tanto o analista Carlos Martins, do banco Brascan, quanto Victor Pereira, da BES Securities, avaliam que o baixo percentual de energia contratada foi resultado da decisão das geradoras de ofertarem a carga no leilão de energia nova, previsto para o segundo semestre deste ano.

Por ser gerada a partir de usinas novas, cujos investimentos ainda não foram amortizados, essa energia será comercializada a valores maiores do que os praticados no leilão de sábado. Como parcela da carga ofertada no último leilão referia-se ao que a própria ministra Dilma chama de ''energia botox'' - gerada em empreendimentos já concluídos, mas cujos investimentos ainda não foram amortizados -, essa carga também poderá ser ofertada nos leilões de energia nova.

Com o resultado do pregão deste fim-de-semana, Pereira identifica um total de 710 MW ainda por serem contratados para o período compreendido entre 2006 e 2013. Para preencher essa lacuna, ele acredita que o governo deverá promover dois novos leilões, um nos mesmos moldes do do último sábado e outro, de ajuste, no qual serão ofertados contratos no ambiente da Câmara Comercializadora de Energia Elétrica (CCEE), com os grandes consumidores.

Se o leilão de energia velha não tem agradado aos analistas, o de energia nova tem despertado o apetite de parte dos investidores do setor. Ontem, tanto a geradora espanhola Endesa, quanto a agora denominada Energias do Brasil, subsidiária da Electricidade de Portugal (EDP), anunciaram investimentos em novas usinas geradoras. Das 17 usinas que serão licitadas no leilão de energia nova, a Energias do Brasil quer disputar a concessão de quatro. Segundo o diretor-presidente da companhia, António Martins da Costa, dois dos empreendimentos são as usinas de Ipoeiras e Mirador, ambas localizadas na bacia do rio Tocantins.

Já a Endesa estuda investir em novos ativos de geração elétrica por meio da Ampla, distribuidora fluminense que acaba de capitalizar.

- O novo modelo de energia deixou as regras claras, e transparência atrai investimentos. Estamos avaliando nossa participação na geração - adiantou presidente da holding no Brasil, Marcelo Llévenes.