Correio Braziliense, n. 20593, 10/10/2019. Brasil, p. 5

Críticas e constrangimento

Maria Eduarda Cardim


De volta à Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados para prestar esclarecimentos sobre os números crescentes de desmatamento na Amazônia, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles ,não quis receber um documento, com aproximadamente 1,1 milhão de assinaturas, contra o leilão de áreas de exploração de petróleo, que ameaça o Parque Nacional Marinho de Abrolhos. Esses blocos estão incluídos na 16ª Rodada de Licitações de Blocos Exploratórios da Agência Nacional do Petróleo, prevista para acontecer hoje. A Justiça Federal na Bahia, porém, determinou que a ANP informe que os blocos na região de Abrolhos estão "sub judice", por conta da ação do Ministério Público Federal.

Em abril, Salles defendeu a decisão do presidente do Ibama, Eduardo Bim, de autorizar a exploração de petróleo próximo ao arquipélago. Na saída da audiência, o ministro saiu escoltado por seguranças, que impediram a aproximação de jornalistas e de ativistas que queriam entregar a Salles a petição contra o leilão na área de Abrolhos.

Durante quase quatro horas na comissão, Salles foi duramente criticado por parlamentares da bancada ambientalista. Mas o pior momento foi quando um jovem estregou a ele o “Prêmio Exterminador do Futuro”, cujo vídeo foi divulgado pelos deputados da oposição nas redes sociais. O ministro manteve a calma e colocou a estatueta embaixo da mesa. O rapaz foi retirado pela segurança aos gritos. ”É o prêmio que o ministro Salles merece”, esbravejava.

Salles também deu informações sobre o recente vazamento de óleo que atinge o litoral do Nordeste —que chegou ontem à foz do rio São Francisco, em Alagoas. Segundo o ministro, “muito provavelmente” veio da Venezuela e embasou a opinião em estudo da Petrobras sobre a possível origem.

“Veio de um navio estrangeiro, ao que tudo indica, navegando próximo à costa brasileira”, afirmou, acrescentando que mais de 100 toneladas da substância foram recolhidas por equipes que trabalham desde o surgimento das primeiras manchas. “Estamos com uma enorme dificuldade de conter, não por inação dos órgãos, mas pela falta de estruturação de um mecanismo”.

Sobre desmatamentos e queimadas, razão da ida à comissão, Salles afirmou que os dados em governos anteriores são piores que os de 2019. Segundo o ministro, os dados são do próprio Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). “Se há um período que foi muito ruim, foi esse. Os números de 2002, 2003, 2004, 2005, 2010 são muito piores do que os de 2019”.

Ao abordar a fragilização de órgãos como o Ibama e o ICMBio, o ministro também relembrou as gestões anteriores. “É evidente que há uma fragilização das estruturas dos órgãos ambientais, que se iniciou em gestões anteriores. Não começou em 1º de janeiro de 2019”. A reversão do quadro é vista como uma tarefa árdua “principalmente pelos cortes orçamentários feitos. Eles atingiram todo o governo e inclusive a área ambiental. É reflexo da má gestão, corrupção, e ineficiência herdada por este governo”.