Título: Desarmamento
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 05/04/2005, Brasília / Opinião, p. D2

À medida em que se aproxima uma decisão sobre o plebiscito do desarmamento, surge com freqüência cada vez maior uma crítica a ele dirigida. É a de que a iniciativa está fadada ao desastre, uma vez que só se desarmariam as pessoas de bem, as que guardam armas para se defenderem, enquanto a bandidagem permaneceria com seu arsenal. Do ponto de vista do marketing, o argumento é impressionante. Do ponto de vista do conteúdo, de duas uma: ou traduz total ingenuidade, ou atende ao lobby das armas, que mostra força superior à imaginada anteriormente.

A falha inicial do raciocínio é que o desarmamento voluntário visa justamente retirar as armas sob controle das pessoas de bem. São essas armas que causam vítimas inocentes em acidentes domésticos, atingindo em especial as crianças. Além disso, são as armas das pessoas de bem que estão presentes em homicídios estúpidos, ocorridos por exemplo em momentos de embriagues ou em brigas de trânsito. Se a pessoa de bem não tivesse arma ao alcance da mão dificilmente o homicídio teria acontecido.

Alega-se que essas armas serviriam para as pessoas de bem se defenderem da bandidagem. Os números dizem o contrário. O número de pessoas que reagem a assaltos utilizando armas de fogo e consegue êxito é infinitamente menor do que o das que se dão mal. É que os bandidos estão quase sempre em posição de superioridade nesses casos. Os poucos que reagem em conseguem sair-se bem são, em geral, profissionais da segurança - que manteriam condições de portar armas.

Quanto aos bandidos, todos sabem que não vão se desarmar voluntariamente. Terão, como hoje, de ser capturados e punidos - espera-se que com maior eficiência e maior dureza do que ocorre hoje. O desarmamento ajudará, porém, na medida em que se tornará mais fácil identificar quem será o bandido: todo aquele que estiver armado sem pertencer às categorias autorizadas a isso.