Título: Dez razões para o GDF investir no Entorno
Autor: Ricardo Pinheiro Penna
Fonte: Jornal do Brasil, 05/04/2005, Brasilia / Opinião, p. D2

Começa a ser questionado na Câmara Legislativa, tanto pela base de apoio ao governo quanto pela oposição, os investimentos do GDF na Região do Entorno. Argumentam os críticos que o governo não deve utilizar o dinheiro do contribuinte brasiliense em ações fora de seu território.

A barragem de Corumbá IV e o TAD (trem de alto desempenho) têm sofrido inúmeras críticas e são alvos de reprovação explícita de alguns sindicatos e de parcela da opinião pública.

Na função legítima de guardiões do interesse público e de fiscal das atividades do legislativo alguns parlamentares percorreram mais de 200 quilômetros para fazer a inspeção no leito da estrada que deverá ligar Luziânia à barragem de Corumbá IV. Devem ter enfrentado uma estrada de chão batido, descido do carro para avaliar o leito rasgando o cerrado e, ao voltar, proferiram a sentença: ''Se não nos convencermos da necessidade de aplicarmos recursos do DF em Goiás poderemos remanejar os recursos para beneficiar moradores de Ceilândia ou Planaltina''.

Sem longos deslocamentos e inconvenientes de uma estrada empoeirada, acho que posso justificar a aplicação de recursos dos contribuintes do Distrito Federal no Estado de Goiás. Acredito não ser difícil estabelecer dez razões para ''gastar'' verbas públicas de um estado promovendo uma gestão compartilhada do território em benefícios de todos.

1. A preservação da qualidade de vida no DF não se faz apenas com investimentos localizados em seu território. A redução da pressão populacional do Entorno sobre o DF é fundamental para alcançar esse objetivo; 2. A redução da pressão do Entorno sobre o DF só será alcançada com a união dos governos de Goiás, Minas Gerais e do Distrito Federal; 3. Mas, o problema do Entorno é antes de tudo um problema do DF do que um problema goiano ou mineiro; 4. É necessário reduzir as enormes desigualdades sociais entre a região do Entorno e a Capital federal; 5. É necessário criar oportunidades de emprego no eixo Brasília-Goiânia como forma de atrair parte de população economicamente ativa que pressiona o mercado de trabalho no DF; 6. Da mesma forma, é necessário reforçar, no Entorno, a rede urbana e seus equipamentos sociais para reduzir a pressão sobre a oferta de serviços de saúde e educação do DF; 7. É fundamental a criação de condições favoráveis para o surgimento de pólos de crescimento no Entorno, para reorientar os fluxos migratórios na região; 8. Nesse sentido, o esforço para a implantação do trem de alto desempenho e a construção da barragem de Corumbá IV são peças fundamentais para gerar riqueza, reduzir desigualdades regionais e garantir a qualidade de vida para as futuras gerações no DF; 9. Corumbá IV vai gerar 127 megawatts, aumentará a capacidade da oferta de eletricidade para o DF em 15% e garantirá o abastecimento de água para os próximos cem anos; 10. A outorga que o Estado de Goiás concedeu ao DF, para utilização da bacia de Corumbá IV, é infinitamente mais valiosa do que todos os investimentos que o GDF está fazendo no estado vizinho. Inclusive a estrada Luiziânia-Corumba IV.

Investir dentro das fronteiras do DF não significa, necessariamente, a melhor opção para garantir melhores condições de vida para os moradores. O governador Joaquim Roriz percebeu a importância do compartilhamento da gestão territorial como forma de preservar Brasília para as próximas gerações. Está trabalhando em várias frentes, tanto em Goiás quanto em Minas. Isto não quer dizer que está ''desperdiçando'' os recursos dos contribuintes brasilienses. Ao contrário, reduz as desigualdades sociais e assegura vida longa para o sonho de Juscelino Kubistcheck.

O avanço tecnológico, a globalização e a redução nos custos de deslocamentos estão transformando a forma de se pensar e se implementar as políticas públicas. Os conceitos de região e gestão estão em grande transformação. É necessário que os agentes públicos e os legisladores modernizem sua visão de mundo e incorporem a idéia de gestão compartilhada em seus conceitos.

Administrar é ter uma visão ampla do mundo e das coisas. É livrar-se de preconceitos e aceitar as transformações que são impostas a todos nós pelo modo de produção capitalista. Temos que nos adaptar para sobreviver. Temos que nos adaptar para servir melhor à população. Investir os impostos dos contribuintes do DF no Entorno é uma dessas ''novidades'' que precisa ser entendida por todos.