Título: Cinema brasiliense, celeiro de talentos
Autor: Paula Porto
Fonte: Jornal do Brasil, 05/04/2005, Brasília, p. D8

Mostra traz filmes mudos, falados, coloridos e preto e branco que revelam a versatilidade de uma geração de cineastas

Internacionalmente conhecida pelo Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, a capital federal também tem se mostrado um verdadeiro celeiro de novos talentos cinematográficos. E essa multiplicidade dedicada à sétima arte poderá ser conferida na mostra O Novo Cinema Brasiliense, em cartaz de hoje a domingo no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). A coletânea reúne 56 curtas-metragens em vídeo, 16mm e 35mm filmados entre 2000 e 2004. - Não é uma mostra, nem um festival. São olhares documentais, ficcionais, experimentais e animados. Trata-se de filmes mudos, falados, coloridos e preto e branco que mostram a versatilidade dessa geração de cineastas genuinamente brasiliense. É um agradecimento àqueles que têm feito o cinema de Brasília se desenvolver tão expressivamente e se destacar no circuito de festivais, além de torná-lo cada vez mais popular - ressalta Marcelo Díaz, também cineasta da nova geração que traz à mostra Extrusos (2004), De esperança e espera (2003) e Suco de beterraba (2000). O diretor divide a curadoria da projeção cinematográfica com Gustavo Galvão, responsável pelas produções Danae (2004), As incríveis bolinhas do Dr. Sorriso Sarcástico (2003) e Emma na tempestade (2002).

Entre as películas apresentadas no Novo Cinema Brasiliense, várias já conquistaram prêmios importantes. O último raio de sol, do estreante Bruno Torres, por exemplo, angariou os troféus da Câmara Legislativa e os Candangos de ator e fotografia no 37º Festival de Brasília. Além disso, o filme, livremente adaptado de casos que ganharam espaço na mídia nos idos dos anos 90 - como o assassinato do índio Pataxó Galdino e do estudante Marco Antônio Velasco -, foi eleito o melhor pelo público da 8ª Mostra de Cinema de Tiradentes e, ainda este ano, estréia na Mostra Competitiva de Curtas em 35 mm do Festival de Valença, na Espanha, e no 1º Festival de Cinema de Macapá (AP).

Já O Lobisomem e o Coronel, uma história divertida sobre um oficial nordestino, contada em forma de repente pelo violeiro cego e sua cadela, deu aos brasilienses Elvis Figueiredo e Ítalo Cajueiro, em 2002, o título de primeiros animadores brasileiros premiados duplamente no Anima Mundi - nas edições do Rio de Janeiro e São Paulo.

O documentário Viva Cassiano!, de Bernardo Bernardes é outra atração da mostra. Filmado entre 1996 e 2004 e eleito o melhor curta pelo público do Festival de Brasília do ano passado, a produção apresenta a vida simples de um dos maiores expoentes literários do Brasil: Cassiano Nunes. Por meio de depoimentos de amigos do autor, Bernardes aproveitou para fazer o que poderá ser o único arquivo da vida do literário.

Na mesma linha poética, mas fugindo do formato documental, a diretora Betânia Victor traz o 16mm Da utilidade dos animais, baseado no conto homônimo de Carlos Drumond de Andrade. Produzido na cidade de Alto Paraíso (GO), o filme relata o ponto de vista humano sobre os animais.

Destaque ainda para O cego estrangeiro, dirigido em 2000 por Marcius Barbieri, que abre mão das imagens e recorre unicamente às legendas para mostrar a realidade de um deficiente visual. Sinistro (René Sampaio), Seqüestramos Augusto César (Guilherme Campos) e os experimentais Fobia, Superfície e Sobre quando não se tem nada a dizer também fazem parte de O Novo Cinema Brasiliense.

Para Gustavo Galvão - cineasta que media o debate estética e perspectivas do cinema brasiliense, na próxima quinta, às 20h30 -, os curtas simbolizam a ''cara de Brasília'', apesar da grande diversidade de gêneros.

- Nós, que somos brasilienses, já conseguimos identificar um filme daqui. Podemos não saber como, mas o identificamos.