Título: Muitas dúvidas no ar
Autor: Paulo Celso Pereira
Fonte: Jornal do Brasil, 06/04/2005, País, p. A2
Ao término do processo na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Alerj, muitas dúvidas ainda pairam sobre o caso Alessandro Calazans, deputado acusado de extorsão na CPI da Loterj/RioPrevidência. Em reportagens da revista Veja, publicadas em outubro e novembro do ano passado, vários deputados estaduais são citados, entre eles o do presidente da Casa, Jorge Picciani, e do relator da CPI, Paulo Melo, atual presidente da CCJ. Nenhum foi investigado.
Segundo a denúncia, o deputado federal André Luiz (ex-PMDB-RJ) negociaria os votos de 40 deputados - mais da metade da Casa, onde teria ''muitos amigos''. Até agora, não se investigou quem seriam esses 40.
O presidente da Alerj considera as denúncias mentirosas e o presidente da Comissão de Constituição e Justiça minimiza as acusações:
- Aonde foi vendido voto? Se for por insinuação, vamos abrir processo contra todo mundo. Para haver crime, você tem de ter provas. A Alerj não tem autoridade para ir nesse sentido. Isso cabe ao Ministério Público. Não pode a Alerj agora se intitular guardiã das investigações - alegou Paulo Melo.
As dúvidas se estendem à condução do processo contra Calazans. Ao longo de mais de três meses, não foi ouvida nenhuma testemunha que não tivesse sido indicada pela defesa. Além dos três peritos que analisaram as gravações, os únicos depoentes foram os deputados estaduais Luiz Paulo Corrêa da Rocha (PSDB) e Marcos Abrahão (PRTB) e o secretário estadual de Administração e Reestruturação, Rogério Vargas. Todos a pedido de Calazans.
Os membros da CCJ não interrogaram os principais envolvidos: um dos supostos interlocutores de Calazans, Jairo de Souza; seu acompanhante, Alexandre Chaves Ribeiro; o repórter da revista Veja, Policarpo Jr., que denunciou o esquema; Carlinhos Cachoeira; o deputado Bispo Rodrigues, citado nas gravações. Nem mesmo fizeram perguntas ao próprio acusado, Alessandro Calazans.
Segundo o relator, Noel de Carvalho, foram usados como provas os depoimentos prestados em Brasília para a Comissão de Ética da Câmara, que analisava o envolvimento de André Luiz. (P.C.P.)