Título: Promessas também fazem fila
Autor: Israel Tabak
Fonte: Jornal do Brasil, 06/04/2005, País, p. A3

Há mais de 10 anos, no início do primeiro governo Fernando Henrique, o ministro da Previdência, Reinhold Stephanes, anunciava a disposição de enfrentar as filas da Previdência. Pouco depois, a meta era quantificada com precisão: um rush de informatização reduziria em 18% as filas nos postos. O prazo para concessão dos benefícios cairia de três meses para, no máximo, duas semanas. A informatização anunciada, longe de acabar com o problema, se transformou na principal desculpa ouvida pelos segurados que procuravam os postos: ''O sistema está fora do ar''. Quem busca atendimento continua penando meses à espera de uma solução, enquanto são descobertas máfias internas com esquemas fraudulentos de concessão de benefícios. Nesse caso, o dinheiro sai rápido.

A burocracia e as irregularidades persistentes não impediram que as promessas recitadas passassem de governo a governo. O então senador pelo PFL Waldeck Ornelas sucedeu a Stephanes, ainda no primeiro mandato de FH, com um compromisso solene. As filas seriam eliminadas. E isso seria feito '' sem demagogia'', porque ''o maior crime que se pode cometer é iludir a opinião pública'' - acrescentava.

Ricardo Berzoini, o primeiro ministro da Previdência de Lula proclamou odiar filas, ao mesmo tempo em que aposentados eram vistos nas ruas, dobrando quarteirões, em torturante espera para serem atendidos. Berzoini não se importava, no entanto, em repetir a receita de ministros anteriores para acabar com a chaga: muita tecnologia e métodos administrativos modernos.

Chegou a vez do novo ministro, o senador Amir Lando, do PMDB, fazer a sua análise: ''Se tem fila é porque alguma coisa está errada'', sentenciou, enquanto visitava um posto no subúrbio de Irajá. Depois, anunciou a intenção de ''mudar a cara da Previdência''. Rifado pela minirreforma ministerial, Lando não teve tempo para cumprir o desígnio. Outro senador do PMDB, o agora ministro Romero Jucá, tira da cartola a sua proposta: vai apresentar ao presidente Lula um projeto para fortalecer o sistema de computação de dados da Previdência. O mesmo tipo de promessa que, há 10 anos, marcou a entrada de Reinhold Stephanes no ministério.