Correio Braziliense, n. 20593, 10/10/2019. Cidades, p. 17

Por que a mulher é vítima de violência?

Jéssica Eufrásio
Mariana Machado


A violência contra a mulher é problema com raízes profundas. Capaz de se manifestar de diferentes formas, ela produz efeitos em diferentes cenários. Hoje, dia nacional de luta contra esse tipo de violência, especialistas e estudos mostram que ainda há um longo caminho a ser percorrido na busca pela equidade. Os impactos vão além da questão da segurança e revelam obstáculos em setores como saúde, economia, política e educação.

Na saúde, por exemplo, as mulheres foram maioria (76,1%) entre os pacientes vítimas de agressão atendidos nas unidades públicas do DF em 2018. A quantidade de mulheres que sofreram violência física e sexual chegou a 2.172. Para além da vida da vítima, as consequências chegam a crianças e adolescentes que vivem em lares onde persiste esse tipo de cenário.

Dados da Secretaria de Segurança Pública do DF mostram que, entre as vítimas de 2019, a maioria sofreu violência moral ou psicológica e física (leia Índices). Além disso, 26 mulheres foram vítimas de feminicídio de janeiro a outubro deste ano. Para propor um novo modelo de tratamento dessas informações, a professora Cristina Castro-Lucas, do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Brasília (UnB), criou o projeto Glória — plataforma sem fins lucrativos que usa inteligência artificial e algoritmos para ajudar mulheres nessa situação e transformar informações em dados de pesquisas.

As vítimas poderão conversar com a robô Glória e falar sobre gatilhos, motivos das violências, tipos, locais e situações frequentes. As informações favorecerão o planejamento de soluções educacionais, legais e preventivas. Cristina observa que um dos problemas é a limitação para a coleta de falas das próprias mulheres: “A maior parte da violência é detectada por meio de boletins de ocorrência ou médicos. Em nenhum desses dois momentos, sabemos o depoimento pelas palavras da vítima, e isso faz toda diferença”, avalia a professora.

Ela destaca que analisar esse cenário é crucial para criar políticas públicas com foco nas vítimas. “Nossa forma de conseguir tocar toda e qualquer mulher que sofre, sofreu ou pode vir a sofrer foi por meio de uma plataforma digital on-line e off-line. E isso se encaixa nas propostas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU). Com ela (a robô Glória), poderemos entender padrões de comportamento e evitar que esse ciclo de violência comece”, comenta Cristina. A robô está em fase de testes e será disponibilizada em breve pela internet.

 

Índices

Tipos de violência de maior incidência registrados no DF de janeiro a julho de 2019

 

» 80,9% - Moral ou psicológica

» 62,2% - Física

» 24,95% - Patrimonial

» 1,9% - Sexual

» 9,6% - Outras naturezas

 

Fonte: Secretaria de Segurança Pública