Título: Roma tenta organizar o caos inesperado
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Fonte: Jornal do Brasil, 06/04/2005, Internacional, p. A7

Sem que houvesse qualquer preparação para isso (como é o caso em conferências internacionais programadas com antecedência), Roma se vê, à medida que se aproxima a data do enterro de João Paulo II, na sexta-feira, em meio à chegada não só de milhões de pessoas, como estima a Prefeitura da cidade, mas também de 200 autoridades internacionais de primeiro escalão, como chefes de Estado e de governo, com as respectivas delegações, além de personalidades e líderes religiosos.

- Tivemos dois anos para organizar o jubileu (25 anos de papado, em 2003). Mas agora temos apenas algumas horas para organizar a logística de um evento enorme como esse - afirmou o prefeito de Roma, Walter Veltroni.

Um centro de convenções na cidade foi transformado em local de acomodação de emergência para peregrinos, com mais de 6 mil camas disponibilizadas.

Nos arredores da cidade, em Tor Vergata, tendas estão sendo montadas para os visitantes católicos mais jovens.

Quatro mil ônibus de turismo estão sendo aguardados e algumas ruas nas proximidades do Vaticano estão interditadas, liberadas apenas para pedestres.

- É algo fora de controle, mas todo mundo é tão paciente. É uma multidão muito pacífica - disse um policial.

A multidão pode ser vista não só no Vaticano e nas imediações, mas também nos locais turísticos de Roma, como o Panteão, a Fonte de Trevi, a Piazza di Navona e a Piazza di Spagna, abarrotadas de gente. Bares, restaurantes e pizzarias estão lotados.

A Piazza di Spagna se tornou uma Torre de Babel, com gente de todas as nacionalidades. A escadaria está lotada de turistas que descansam antes de visitar a famosa Via Condotti, rua onde ficam as sedes das principais lojas de moda.

Nos arredores, o barulho da água e as vozes da multidão, típicos da Fonte de Trevi, servem de fundo para os ambulantes, que vendem souvenirs de João Paulo II.

Enquanto isso, no Panteão do imperador Agripa vários grupos se reúnem e aproveitam para lanchar e tomar sol.

A morte do líder dos mais de 1 bilhão de católicos no mundo criou um boom para a indústria do turismo em Roma, atraindo centenas de milhões de dólares de uma inesperada receita. Segundo alguns turistas, os hotéis mais importantes estão expulsando hóspedes para abrir espaço para autoridades estrangeiras.

- Não conseguimos encontrar nada, então estamos aqui - disse a universitária siciliana Maria Concetta, em uma das barracas azuis da cidade improvisada ao Sul do centro histórico da capital.

Na Cidade do Vaticano, Francesca Graziosi, 70 anos, comprava 30 euros em cartões postais com a imagem do papa João Paulo II. Ela também encomendou pôsteres do pontífice.

Nazareno Sacchi, presidente da associação de restaurantes de Roma, disse que os cafés, principalmente os mais baratos, estão recebendo um número enorme de clientes.

- Eles tiveram de aumentar as encomendas de tudo aos fornecedores - disse Sacchi, citando uma lista que vai de refrigerantes a doces.

A explosão de demanda também tem um lado ruim, alertam os grupos de defesa do consumidor: a alta de preços.

O café expresso está custando mais que o dobro do preço comum perto do Vaticano. A água mineral é vendida 600% mais cara que nos supermercados.

O espanhol Antonio Monteira Barbosa e sua namorada colombiana chegaram ontem à cidade.

- Nós não temos certeza de onde vamos ficar. Se você está em paz, o 'onde', 'quando' e 'como' não são importantes.