Correio Braziliense, n. 20591, 08/10/2019. Política, p. 5

​Sem motivos para sair



O ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antonio (PSL), afirmou ontem que não pretende se afastar do cargo mesmo depois de ser denunciado pela Procuradoria Eleitoral de Minas Gerais pelo uso de candidaturas laranjas em 2018 e diante da possibilidade da abertura de uma nova investigação, agora por caixa 2.

"Quem não deve não teme", afirmou, em entrevista à Rádio Itatiaia, de Belo Horizonte. "Por que me afastaria, se tenho a consciência tranquila? Não vejo problema nenhum, caso abra essa segunda investigação para caixa 2. Sempre zelei por observar as regras da Lei Eleitoral. Portanto, estou absolutamente tranquilo".

Na entrevista, Marcelo afirmou que "se houve algum delito" na campanha, "não passou pela executiva estadual" — era presidente do PSL em Minas. "Não passou pela executiva estadual. Portanto, na minha opinião, deve-se identificar. Se houve algum delito por qualquer um por parte do partido, que se identifique e puna-se individualmente".

Marcelo afirmou que respeita o trabalho da PF, do MP e da Justiça, mas reclamou de ter sido denunciado, segundo ele, com base na chamada teoria do domínio do fato. "É uma teoria muito cruel. É como se o office-boy aqui da Rádio Itatiaia, que é uma função nobre, cometesse qualquer delito na rua e o presidente da rádio fosse responsabilizado por isso". O PSL nacional não se pronunciou até o fechamento da edição.

 

Presença incômoda

A decisão do presidente Jair Bolsonaro de manter Marcelo no cargo começa a incomodar aliados do governo. Em uma sequência de tuítes, a deputada estadual Janaína Paschoal (PSL-SP) defendeu a saída e disse que "nada justifica o governo carregar esse ônus".

"A insistência do presidente em manter o ministro do Turismo no cargo é que vem dando margem à criação de fantasmas onde não há. O ato de grandeza, aliás, poderia partir do ministro", tuitou.

Marcelo foi denunciado, sexta-feira passada, com mais 10 pessoas, pela Procuradoria e também foi indiciado pela Polícia Federal, no inquérito da Operação Sufrágio Ostentação, por falsidade ideológica, associação criminosa e apropriação indébita. Ele supostamente estava à frente de um esquema que utilizava como laranjas candidatas registradas dentro da cota de 30% de candidaturas femininas. Como presidente do PSL em Minas e então candidato a deputado federal, a ideia não era elegê-las, mas apenas acessar recursos do fundo eleitoral.

 

Frase

“A insistência do Presidente em manter o Ministro do Turismo no cargo é que vem dando margem à criação de fantasmas onde não há. O ato de grandeza, aliás, poderia partir do ministro"

Janaína Paschoal, deputada estadual (SP) e do mesmo partido de Bolsonaro e de Marcelo Antonio