Título: Assassinato na porta da delegacia
Autor: Florença Mazza
Fonte: Jornal do Brasil, 06/04/2005, Rio, p. A13

Pedreiro é executado com quatro tiros à luz do dia, a 100 metros do local onde ficam os investigadores da matança na Baixada

Um homem foi morto a tiros, na tarde de ontem, a cerca de 100 metros da Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense, onde a cúpula da Secretaria de Segurança Pública estava reunida para investigar a chacina na Baixada. O pedreiro José Martins Rodrigues, 52 anos, foi assassinado com quatro tiros em frente ao número 757 da Rua Yolanda Ferreira dos Santos, a um quarteirão da delegacia, que fica em Belford Roxo. O crime aconteceu às 17h15, cinco minutos depois que carros da Coordenadoria de Operações e Recursos Especiais (Core) deixaram a delegacia. Lá também funcionam a 54ª DP (Belford Roxo) e a Delegacia de Atendimento a Mulher. O subsecretário Operacional da Secretaria de Segurança, delegado Paulo Souto, estava no local e também pode ouvir os tiros que mataram Zezinho, como era conhecido o pedreiro.

Policiais que investigam o massacre que deixou 30 mortos nos municípios de Queimados e Nova Iguaçu interpretaram o assassinato como um possível recado para a polícia, que já prendeu 11 PMs suspeitos de envolvimento com a chacina. Mas o delegado titutar da DH-BF, Rômulo Vieira, disse que o crime foi pontual.

Policiais da 54ª DP informaram que o pedreiro tinha três passagens pela polícia. José já foi preso por receptação e porte de armas, agressão e roubo. Ele estava em liberdade desde dezembro. Pouco depois dos tiros, a rua em que o pedreiro foi morto estava tomada por pedestres e moradores do bairro do Piam, chocados com um crime. Uma moradora, que não se identificou, disse que viu um carro passando e atirando contra José.

Zezinho morava com a mãe, Mercedes Estevão Martins, 75 anos, a dois quarteirões de onde foi morto. Um outro morador disse que ele era boa pessoa e que estava trabalhando como pedreiro na região. Ainda de acordo com vizinhos, Zezinho tinha dois filhos. O pedreiro, que usava bermuda azul e camisa estampada, ficou estirado por cerca de dez minutos no chão até morrer. Ele levou pelo menos um tiro na cabeça.

O crime aconteceu horas depois que uma base da Polícia Federal foi montada na DH-BF, de onde o delegado federal Ronaldo Menezes acompanhará as investigações, com 30 policiais federais.

Por considerar que ''faltou empenho'' na investigação dos grupos de extermínio que agem na Baixada, o chefe da Polícia Civil, Álvaro Lins, pediu ontem ao secretário de Segurança, Marcelo Itagiba, a substituição do delegado titular da 55ª DP (Queimados), João Luiz Almeida Costa. Em seu lugar, assumiu Ademir de Oliveira. Na tarde de ontem, três caixas com cerca de 10 armas usadas pelos policiais do 24º BPM (Queimados) que estavam de plantão na quinta-feira, dia da chacina, foram entregues na DH-BF para perícia. Três carros apreendidos ainda serão periciados.