Correio Braziliense, n.20564, 11/09/2019. Economia. p.7

FGTS contribuirá para retomada
Anna Russi 


A equipe econômica acredita que a liberação de saque imediato de recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), a partir de sexta-feira para quem tem conta poupança na Caixa, será um dos fatores importantes para a expansão da retomada da economia. Ontem, o governo elevou de 0,81% para 0,85% as projeções de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano e reduziu de 3,8% para 3,6% a previsão para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), no Boletim Macro Fiscal da Secretaria de Política Econômica (SPE) de setembro.

De acordo com a SPE, serão liberados para saque do fundo os montantes de R$ 28 bilhões, em 2019, e R$ 12 bilhões, em 2020. A medida atingirá 96 milhões de trabalhadores, 46,3% da população brasileira. Os efeitos estimados pela secretaria no crescimento econômico são de 0,14 ponto percentual, em 2019 e 0,21 ponto percentual, em 2020.

Para o secretário de Políticas Econômicas, Adolfo Sachsida, a aprovação da reforma da Previdência e a maturação de outras medidas já tomadas também serão fundamentais para um novo cenário e uma recuperação mais consistente dos indicadores econômicos em setembro. “Em agosto, encerramos um ciclo extremamente difícil. A partir de setembro, poderemos observar os indicadores registrarem com mais consistência a recuperação”, declarou.

Revisão

Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, acredita que o FGTS não terá impacto significativo no crescimento econômico. Segundo ele, uma das provas disso é a revisão de crescimento “mínima” do governo, que já levou em consideração os saques do Fundo. “Isso nos mostra com clareza que o impacto da liberação do FGTS não será relevante para o crescimento. Estatisticamente, a nova projeção é o mesmo número que antes”, destacou.

Para ele, o baixo crescimento é um banho de água fria nas expectativas iniciais do mercado. “A previsão desacelerou muito. O mercado esperava algo em torno de 2,5% inicialmente. Terminar o ano abaixo de 1%, menor que no ano passado não é positivo”, afirmou. Na visão de Vale, o governo pode esperar uma pressão grande do mercado financeiro no próximo ano. “Vai ficar em cima para saber o que o governo vai fazer para que a recuperação seja mais rápida”, disse.

Apesar de acreditar que haverá uma retomada gradual e contínua nos próximos meses, Silvio Campos, economista-chefe da Tendências Consultoria, pondera que não espera nada “muito entusiasmante” e que não vê a quebra de um ciclo econômico ruim especificamente no mês de setembro, como disse o secretário. “Há uma expectativa de melhora. Todo o cenário econômico tem caminhado para a recuperação e deve continuar ao lonto dos próximos meses e em 2020”, defendeu.