Título: Lago Oeste versus Ibama
Autor: Lorenna Rodrigues
Fonte: Jornal do Brasil, 06/04/2005, Brasília, p. D4

Tumulto, filas e bate-boca marcaram a audiência pública realizada ontem para ouvir a sociedade sobre o Projeto de Lei nº 4.186/04, de autoria do Ibama, que aumenta a área do Parque Nacional de Brasília de 30 mil hectares para 46.230 hectares. O projeto causou polêmica por incluir na área do parque regiões hoje ocupadas, como parte do Lago Oeste, e os Núcleos Rurais Boa Esperança e Mini-Granja. A confusão começou antes mesmo do início da audiência. Do lado de fora, agricultores que tiram o sustento da terra e que correm o risco de perder a área que ocupam se misturavam com proprietários de casas de fim-de-semana. Os mais humildes foram logo formando uma fila enquanto os mais bem vestidos tentavam usar de uma suposta influência para forçar a entrada. Não teve jeito. Todos tiveram que ser revistados por um dos 30 policiais militares chamados para garantir a segurança da audiência.

Animados por uma Kombi que tocava música sertaneja, muitos do que esperavam pacientemente chegaram às 11h para garantir lugar na reunião, que não tinham muita certeza do que se tratava.

- Eu não sei muito bem porque estamos aqui, mas disseram que podemos perder nossas terras e eu vim para protestar - contou a dona de casa Lindair Ferreira, moradora do Condomínio Morada dos Pássaros.

Já o agricultor Ralmir Teles sabia o que iria pedir: a permanência nas terras que cultiva a sete anos.

-Nós não somos grileiros, eu paguei pela minha chácara. Se eu perder minha terra, a única opção que eu tenho é vir para a cidade, ficar na rua sem emprego - afirmou.

Às 15h, a audiência começou com mais tumulto. Os 420 assentos do auditório foram insuficientes e muita gente sentou no chão. Muito vaiado, o gerente-executivo do Ibama, Francisco Palhares, foi o primeiro a falar. Ele, o deputado federal Jorge Pinheiro (PL-DF), relator da Comissão de Meio Ambiente da Câmara, que analisa o projeto de lei, e representantes do Ministério Público pediram calma à platéia. Não adiantou muito. Vaias aos partidários do Ibama e aplausos aos opositores interromperam por várias vezes a audiência.

O técnico do Ibama Sérgio Brant foi o encarregado de apresentar o projeto da poligonal do parque. Assumiu que parte da responsabilidade pela ocupação da área hoje requisitada para o parque foi do poder público, mas afirmou que isso não justifica que essas áreas sejam excluídas.

- Chegamos a analisar a exclusão de todas as áreas ocupadas, mas isso é impossível, já que se trata de uma região de captação de água das bacias do Rio Palma e Dois Irmãos - explicou.