Título: Conclave começa no dia 18
Autor: Gregory Viscusi
Fonte: Jornal do Brasil, 07/04/2005, Internacional, p. A8

Lido ontem durante a congregação de cardeais, o testamento de João Paulo II, que será divulgado hoje, é basicamente um documento espiritual e faz apenas uma breve referência a suas poucas posses materiais, revelou uma fonte do Vaticano. Durante a congregação, também decidiu-se que o conclave que vai escolher o sucessor do papa será no próximo dia 18.

O testamento, de 15 páginas, foi escrito em polonês e a maioria das páginas está incompleta. Segundo uma fonte, um prelado de alto escalão, o pontífice escreveu o documento ''a prestação'' ao longo dos anos e a maioria dos capítulos parece ter sido escrito durante ou depois do retiro espiritual que o papa realizava todos os anos no Vaticano, na época da quaresma. O último foi em fevereiro deste ano.

A fonte revelou ainda que a maior parte das ''poucas posses terrenais'' do papa foi deixada para assessores próximos, a quem se referiu como ''familiares''.

- Estamos falando realmente de pequenos objetos - disse.

João Paulo II perdeu todos os parentes próximos, inclusive seus pais e o irmão mais velho, quando ainda era jovem.

A expectativa é a de que o testamento tenha sido o guia do pontífice e contenha reflexões sobre a missão espiritual da Igreja.

Segundo o porta-voz Joaquin Navarro-Valls, o papa começou a escrever o documento em 1979, apenas um ano após ser eleito. Em declarações ontem de manhã, Navarro-Valls disse ainda que o testamento não revela a identidade do cardeal que havia sido nomeado em segredo - ''in pectore''.

Segundo o porta-voz, sem a informação, o cardeal ''in pectore'' não existe. Sua nomeação foi anunciada no consistório de outubro de 2003, mas o nome jamais revelado. A fórmula é usada pelo papa por questões de conveniência para a Santa Sé - caso prefira, por exemplo, manter alguém como arcebispo - ou por motivos políticos.

Muitos apontavam o arcebispo polonês Stanislaw Dziwisz, secretário de Karol Wojtyla durante quase 40 anos. Uma segunda hipótese seria a de que o papa tivesse buscado apoiar os católicos de um país em que a Igreja atravessasse dificuldades, como Rússia ou China.