Título: Corpo foi exposto na sala Clementina
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Fonte: Jornal do Brasil, 04/04/2005, Internacional, p. A7

Com a tradicional vestimenta papal, carmesim e branca, e o chapéu de bispo, o corpo de João Paulo II foi colocado ontem em um altar na sala Clementina, a sala de afrescos do Vaticano onde já foram recebidos líderes mundiais. Este não foi o velório público, que começa hoje, mas uma solenidade reservada a eclesiásticos, freiras e a poucos convidados de fora da Igreja Católica. No entanto, pela primeira vez na história vaticana, fiéis do mundo todo puderam ver pela televisão a imagem do pontífice, no segundo dia pós-morte.

O rosto do papa parecia ao mesmo tempo sereno e com dor, mostrando claramente os sinais do sofrimento físico que o acometeu nos últimas dias de vida. A cabeça estava recostada em travesseiros e sua cruz de prata pastoral, posicionada sobre o braço. Um rosário de madeira foi colocado em suas mãos.

No primeiro rito das exéquias, a portas fechadas, assessores pessoais, cardeais, bispos, freiras, dignatários e funcionários do Vaticano entoaram cantos gregorianos e orações latinas. O corpo foi abençoado com água benta.

- Agradecemos a você, Deus, pelas boas coisas que deu à Igreja através de João Paulo II e imploramos sua clemência pelas falhas que nosso pastor cometeu por causa de sua fragilidade humana - dizia uma das preces. - Volte seu olhar em direção a ele e permita que, ao lado dos santos, entre na beatitude da luz eterna.

Dois guardas suíços, protetores cerimoniais dos papas, ficaram ao lado do corpo, como faziam quando o pontífice lia discursos para líderes mundiais, no mesmo ponto da sala. Em bancos do lado esquerdo, estavam sentados o secretário particular de João Paulo II, o arcebispo Stanislaw Dziwisz, e as freiras que cuidavam do seu apartamento.

Além de cardeais e bispos, passaram pelo catafalco o presidente da Itália, Carlo Azeglio Ciampi, e o primeiro-ministro, Silvio Berlusconi. Ambos fizeram o sinal da cruz e saíram em silêncio.

Outros líderes mundiais viajam em breve para Roma. Segundo a Santa Sé, o sepultamento deve ocorrer depois da quinta-feira. O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, confirmou presença, assim como George Bush, dos Estados Unidos, e Vicente Fox, do México. O líder argentino, Néstor Kirchner, não vai ao Vaticano, mas envia dois representantes: o vice-presidente, Daniel Scioli, e o chanceler Rafael Bielsa. O presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso, será o representante da União Européia nas exéquias. Já a Grã-Bretanha não informou ainda quais membros da família real e do governo participarão do funeral. O chefe de Relações Exteriores da Igreja Ortodoxa, o metropolitano Kirill, viaja ao Vaticano em nome do patriarcado de Moscou.