Título: Réquiem
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Fonte: Jornal do Brasil, 04/04/2005, Internacional, p. A7

Duzentas mil pessoas se unem no Vaticano para início de despedida ao papa

CIDADE DO VATICANO - Pelo menos 200 mil pessoas lotaram a praça São Pedro para participar da missa, celebrada pelo cardeal Angelo Sodano, em intenção a João Paulo II - morto no sábado por um colapso circulatório e septicemia, que causou falência dos órgãos. Muitos fiéis choraram quando o arcebispo Leonardo Sandri leu uma mensagem preparada pelo papa.

Além de ter sido um réquiem, a missa do Regina Coeli substitui a benção do Angelus, mas conta tradicionalmente com um texto escrito pelo papa, por ocasião do domingo da Divina Misericórdia, o primeiro após a Páscoa.

''Para toda a humanidade, que hoje parece tão perdida e dominada pelo poder do mal, egoísmo e medo, nosso Senhor ressuscitado nos dá seu amor que perdoa, reconcilia e reabre a alma para a esperança'', dizia a última mensagem oficial de Karol Wojtyla.

Na primeira fila, políticos italianos ficaram em pé, em silêncio. Atrás deles, fiéis mostravam fotos do papa e da Virgem Maria, ou bandeiras da Polônia, onde ele nasceu.

- Ele morreu com a serenidade dos santos - tranqüilizou Sodano, que em sua homilia o chamou de ''João Paulo II, ou melhor, João, o Grande'', usando um título raras vezes dado a um pontífice. A celebração foi interrompida 11 vezes, por longas palmas, a cada vez que a imagem de João Paulo II aparecia no telão lateral da praça ou que Sodano pronunciava seu nome.

A emoção era tão intensa que uma mulher morreu de infarto, durante a missa. A católica chegou a ser levada para o centro Santo Espórito, onde médicos tentaram reanimá-la, sem sucesso.

Mesmo depois do fim da celebração, milhares de fiéis continuavam no Vaticano, rezando o rosário. Muitas pessoas - equipadas com cadeiras e cobertores, para suportar o frio de 7ºC - já faziam fila para entrar na basílica de São Pedro, onde a partir das 17h de hoje o corpo do papa será exposto. Espera-se que, em três dias de velório público, mais de 2 milhões de pessoas dêem adeus a João Paulo II.

Segundo o Vaticano, o enterro não deve ocorrer antes da quinta-feira e é possível que seja adiado para sábado, para que todas as pessoas possam se despedir do papa peregrino. A Constituição Apostólica Universi Dominici Gregis, promulgada pelo próprio Wojtyla, estabelece que o enterro papal deve ser realizado entre o quarto e o sexto dia depois da morte. Como o pontífice morreu no sábado, a data limite seria sexta-feira, dia 8. No entanto, atender aos apelos da multidão seria considerada uma ''razão especial'' para adiamento.

Outra opção cogitada é colocar o catafalco no átrio da basílica, e não no altar, para agilizar a passagem de fiéis. Mas eclesiásticos consideram que esta medida seria insuficiente.

Hoje, cardeais abrirão o testamento de Wojtyla, onde deve estar escrito o local em que gostaria de ser enterrado, se no Vaticano ou na catedral da Cracóvia (Polônia, onde nasceu). Tudo leva a crer que seu jazigo, assim como o da maioria dos papas, seja nas grutas da basílica de São Pedro, a poucos metros de onde está o túmulo do apóstolo Pedro, que fundou a Igreja.